Embora o termo Grindcore venha sendo utilizado de forma mesclada com o Death Metal em alguns contextos, os dois começaram por caminhos diferentes embora contemporâneos e, hoje em dia, com sonoridades cada vez mais distantes.
Em meados dos anos 80, o Grindcore na sua forma mais pura, consistia em toques curtos e apocalípticos de ruídos feitos com instrumentação heavy metal padrão (uma ou duas guitarras distorcidas, baixo e bateria).
Indiscutivelmente, a banda que inventou o estilo foi a britânica Napalm Death, cuja estréia em 1987, com o clássico Scum (pouco menos de 34 minutos de caóticas alusões destrutivas sublinhadas por instrumental tôsco e mal executado), talvez seja o exemplo mais representativo.
Nas mãos do Napalm foi realmente desenvolvida uma metáfora sonora para a frieza, a violência e a decadência da sociedade moderna com letras embasadas em várias questões sociais sórdidas e sombrias.
O Carcass é outra banda inglesa que também resume através de seus dois primeiros discos: Reek of Putrefaction de 1988 e Symphonies of Sickness de 1989 - a forma original do Grindcore, embora com um conteúdo lírico diferente e demente ao extremo, direcionado à doenças, necrópsias, termos cirúrgicos de Medicina Legal e outras bestialidades mórbidas. Mas o Carcass viria a modificar tanto o seu som no decorrer de sua trajetória que se afastaria totalmente do contexto Grindcore e seria necessário um post unicamente direcionado à banda tamanha a complexidade do rumo que tomou sua carreira. Já o Napalm, no seu segundo álbum também clássico - From Slavement to Obliteration de 1990, já começaria a experimentar texturas industriais e sutis fusões de bateria eletrônica que também serviriam de base para as texturas tradicionais do Grindcore.
Embora fosse um fenômeno distintamente britânico, os primeiros álbuns de algumas bandas americanas da Flórida - tendo a Morbid Angel e seu Altar of Madnes de 1989 como a mais vigorosa - também adotariam um rosnado (estilo gutural e demoníaco de vocal) porém sublinhado num instrumental relativamente bem mais técnico com andamentos muito rápidos. Mas isso sim, esse som agressivo e não tão menos brutal seria o que viríamos a chamar de Death Metal. Creio que em Grindcore - 85 Minutes of Brutal Heavy Metal tudo ainda estava embalado num mesmo "saco de gatos" de música extrema.
Aqui no quentíssimo "Rio de Janeura", foi justamente no início daqueles anos 90, ali no MIS - Museu da Imagem e do Som da Pça XV - que uma galera sedenta por novidades e aberrações cinéfilas/musicais foi convidada pelo meu amigo de faculdade de Comunicação Social na época, Haroldo Mourão - https://www.facebook.com/haroldo.mourao?fref=ts (que viria a ser roteirista do extinto Casseta e Planeta - classicão com Bussunda e cia. anos depois seguindo uma carreira bem sucedida até hoje como roteirista de televisão) para levar alguns vídeos bizarros para entreter o povo que não era muito chegado numa praia (bem, era bem o meu caso naquela década) nas tardes de sábado carioca. O Haroldo era estagiário do MIS na época e me lembro que o saudoso e simpático, o falecido Skunk, da formação original de um então embrião do Planet Hemp, marcou presença numa mesma tarde em que eu também compareci, levando (ele) um show ao vivo do Janes Adicition (ou seria do Porn for Pyros? Aí já não me lembro em detalhes pois já faz tantos anos...). Talvez também tenha sido ele quem levou alguns filmes de terror desses tôscos e mal feitos - http://faith-on.blogspot.com.br/2013/06/cine-noia-sangue-marginal-relatos-de.html . - que sempre teve um nicho de fãs cativo e coeso.
Bem, afirmo com clareza de neurônios sobreviventes que foi eu quem levei esse Grindcore - 85 Minutes of Brutal Heavy Metal (e não me perguntem como o arrumei na época) e o pequeno público presente - que não era banger - não entendeu porra nenhuma. O que posso dizer é que o documentário acabou "funcionando" bem com o conceito do evento pois foi encarado de forma humorística como se fosse mais um filme bizarro incluído na sequência cinéfila de terror, tamanha a estranheza que as bandas causavam com suas sonoridades brutais e ainda muito mal assimiladas na época. O povo presente seria o que denominaríamos como "indie" hoje em dia e as risadas que a galera e o Haroldo davam ao se deparar com o som maluco do Paradise Lost, do Godflesh, justamente do Carcass e de todas as outras abordadas no documentário foram inesquecíveis e ilárias. Tava todo mundo odiando e curtindo ao mesmo tempo saca?
Acabou que fui elogiado com se tivesse levado um filme de terror diferente entende? Bons e leves tempos que não retornam mais. Creio que eu, Porão, contribuí para enorme antipatia entre bangers e indies (que sempre rolou) na capital carioca e fui agraciado pelo público pirado de cinema de terror tôsco naquela tarde. O que ficou mesmo, foi a boa lembrança da simpática personalidade do Skunk, um dos poucos que curtiu o VHS (sim era essa a mídia da época), o apreciando assim como eu, pelo seu enfoque principal: a música!
Aquele talvez tenha sido o meu maior contato com o Skunk. Não deu tempo de nos tornarmos amigos de fato e ele viria a falecer alguns anos depois (meses? também me falha a memória ainda mais para um "detalhe" de tristeza e saudade), mas ficou a nunace de simpatia, gentileza e um sorriso camarada de um "maluco" que se aproximava facilmente de qualquer um que curtisse uma boa prosa sobre bandas, estilos, sonoridades e afins. Dedico esse post e esse vídeo a ele! Que esteja bem e tranquilo num local fresquinho...
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