segunda-feira, 30 de julho de 2012

k entre nós

FABIANO SOUZA
& SUA ULTIMA DANÇA


Algumas poucas coisas nesse sopro de existência parecem fazer muito sentido. Não me presto aqui com este blog humilde e esquisitinho a ficar ditando "verdades absolutas". Não me interessam as crenças alheias...existem os fatos: algumas almas são semelhantes e isto não significa um alívio salvador. É tipo morfina entende?

Porão - A Ultima Dança continua sendo a banda com a qual mais acho que  combina com o tipo de arte visual que desenvolvo. Parece algo forçado mas realmente é o que sinto. O que pensa sobre isso?


Fabiano Souza - Certa vez vi uma fotografia feita por você, onde um grupo de rapazes olhava para fora do trem e lá fora, o subúrbio; Acho que a minha grande inspiração vem dele. Gosto de mesclar batidas eletrônicas voltadas para sons que lembram ruas do subúrbio, o centro etc. Admiro sua arte por retratar o mesmo.


Porão - Tipo Dead Can Dance! Eu costumava fazer algumas experiências estranhas nos anos 90: pegava o trem da Central até Japeri e colocava Dead Can Dance no fone (antigo cd player redondinho onde entrava o disquinho lembra-se?) . Se fosse possível eu fotografava. O resultado era existencialismo puro, bem emocionante. Vamos ser realistas: o povão pobre, feio e maltratado desfilando na minha frente e aquelas musicas estranhas...


Fabiano Souza - Adoro Dead Can Dance. Ouvi muitas vezes quando morava na baixada fluminense, em Parada Angélica . Era muito jovem e ganhei um convite particular para conhecer o Club Dreams em Santa Cruz da Serra. Ouvia-se muito Dead Can Dance por lá. Lembranças eternas! Acredita que subíamos no trem Maria Fumaça e íamos para a cachoeira de Raiz da Serra no teto do mesmo ouvindo um som num rádio de pilha ?


Porão - Creio que daria um lindo clipe! O que lhe inspira nas letras da Ultima Dança?

Fabiano Souza - Do que gosto nas letras é o fato de não ter uma direção concreta ou um compromisso de alertar, ou tentar impor alguma ideia. É como olhar para este mesmo trem lá de fora e ver sua vida passando, como numa coletânea de momentos.


Porão - Concorda que se trata de uma questão de trabalhar sua alma com música e não  com rótulos...tudo bem, temos aqui um contexto sombrio, melancólico, mas a coisa de goth music acaba sendo limitante não?


Fabiano Souza - Sim, busco em diversos estilos musicais o que gosto e não me limito em ouvir apenas o gênero gótico. Também não gosto de passar noites conversado sobre bandas ou poetas. Prefiro um assunto mais direto, beber algo com uma boa companhia. Limitar-se é um erro! Se você notar, no Última Dança, você encontra batidas de Rap nacional e costumo ouvir Facção Central, pois gosto de saber de outras realidades também.


Porão  - Há dois covers de música brasileira no post da coletânea recém lançada; Por que essas canções e esses autores: Cartola e Marina Lima?


Fabiano Souza - Cartola é uma grande inspiração! Sua música é rica e gosto daquele clima nostálgico dos bares e morros do RJ, além de admirar sua poesia. Fizemos um cover de - As Rosas não Falam, adoro esse som. Gosto de Nélson Gonçalves também. Admiro o material antigo da Marina Lima, encontramos na música dela fontes ricas do mesmo assunto acima.


Porão - Então vamos logo adentrar em assuntos delicados pois afinal de contas,  faço parte da história da banda: o antigo baixista (meu amigo particular assim como todos os musicos da Ultima Dança) Marcelo deixou a banda recentemente. Ela trampa com A Marina Lima inclusive. O que houve ?


Fabiano Souza - Marcelo sempre foi um grande amigo. Sempre o respeitei desde o dia em que ele me visitou com seu baixo e disse - Se tiver um lugar pra mim eu quero tocar, desde que todos estejam afim da mesma coisa - . O Última Dança já estava dado por terminado  e esses caras reviveram os dias da U.D junto comigo. Bem, achamos que o Marcelo não queria mais tocar conosco, pois parecia distante e cada vez mais ausente. De início pensávamos em lhe dar um susto, como fizemos com Marcos, o tecladista, que certa vez fez o mesmo. Contudo, quando tentamos falar com o Marcelo, creio que a mágoa falou mais alto e partiu para algo mais pessoal de um integrante a outro, até chegar a esse final lastimável. Algo mais pessoal. Ah, não quero falar mal de Marcelo, gosto daquele filho da puta!


Porão - Acha que o som ficou limitado agora que as funções de baixo, teclados e programações foram acumuladas por um unico integrante?


Fabiano Souza - Conseguimos encontrar o caminho para suprir esta necessidade. Creio que afete na parte mais visual da banda pois as pessoas adoram sentir o baixo ali, presente, como um cara mandando e tal ... mas a parte eletrônica ficou bacana também. Deu-nos outras possibilidades.


Porão - Como foi a ideia desse novo disco virtual? Em principio pensei tratar-se de uma despedida. 


Fabiano Souza - A principio até eu pensei em ser a despedida. Contudo o Adriano está programando muito bem, então decidimos compor coisas novas juntos e gostamos do resultado. O disco por todas as canções são partes de materiais gravados que tínhamos aqui, contudo há covers e duas canções novas.


Porão -  O link qual é?


Fabiano Souza - www.myspace.com/arquivo93


Porão - Há um público fiel?


Fabiano Souza - Temos um público bem variado. Já fizemos shows em que o pessoal do Metal gostou ... Punks e etc.


Porão - Consegue compor a alegria?


Fabiano Souza - Não consigo. Rs. Toda minha inspiração vem de minha dor.

Porão - E digamos que há um certo espiritismo em suas letras né? Digo: Carrosel por exemplo, parece um conto espirita...estarei falando merda?


Fabiano Souza - Não. Quando componho ando pela rua, pelo quintal absorvendo o ambiente e entro num tipo de consciência externa, então começo a escrever e no final percebo que parte das letras não são minhas. Sinto como se falasse por alguém.


Porão - Mas são imagens bem nítidas,! As músicas são  compostas tipo uma fotografia então?


Fabiano Souza - O Carrossel eu escrevi atravessando a Ponte Rio Niterói ...Parte dos personagens são feitos de meu medo fundido a histórias de outras pessoas. Um poeta chamado Roni Peterson ajudou-me a decifrá-la também.


Porão - Falemos então, da canção de que mais gosto : Sombras do Subúrbio! Do que se trata? Que letra ! Que canção tão linda!!! Há uma banda gringa (creio que norte americana)  maravilhosa chamada Tears Run Rings - cuja a música que se chama Distance...bem, eu penso que há uma ligação entre essas duas canções...vou tentar explicar melhor!


Fabiano Souza - Então, Sombras do Subúrbio retrata parte do bairro de Queimados, lugar onde morei e mora atualmente o poeta Luiz Carlos, amigo que possui um projeto chamado Solene Nênia em que participo. Esta música retrata também a época em que este meu amigo escrevia para uma pessoa que não posso relatar o nome. Ela foi escrita para uma pessoa...


Porão - Tenho um projeto musical/ poético chamado Telepath (mas há um segundo nome de reserva e pode ser que passe a se chamar Matuto Project em homenagem às pessoas que moram na cidade onde vivo. Essas combinações post punk com um pouco de folk clássico (Neil Young e muitos afins) e algo de mpb antiga). Venho comentando  com vários músicos amigos, inclusive com o Marcelo. Gostariam de fazer alguma parceria como músicos/ banda de apoio?


Fabiano Souza - Certamente! Somos velhos amigos e nos identificamos com a arte um do outro. Seria um prazer!


Porão - No início, o baixo e as letras doloridas serão minhas e somente minhas. Telepath é em homenagem a uma das musicas mais lindas do The Church e Matuto Project é em homenagem a mim mesmo que vivendo numa "Terra de Matuto" acabei sendo contaminado e me transformei num matuto mutante!


Fabiano Souza - Risos. Jamais será um matuto. É um excelente fotógrafo de personalidade!


Porão - Você lê bastante?


Fabiano Souza - Não tanto como deveria. Temo que ao ler muitos autores acabe tomando-os por influência. Quero manter meus escritos bem próximos de meu eu verdadeiro.


Porão - Então, a inevitavel: o que tem ouvido?


Fabiano Souza -  Sol Invictus, Ordo Rosarius Equilibrio, Of a wand and the Moon, Current 93, Escarlatina Obsessiva e  Solene Nênia. São os sons que ouço com frequência.


Porão - Que coisa! Lembro-me de que nos conhecemos numa festa - Regret - nas entranhas de Duque de Caxias - eu atravessava a cidade em busca de pessoas, informações, conceitos....para chegar a conclusão de que essas buscas são mais precisas quando pegamos o caminho de nossas próprias sombras. Vivo um momento feliz por um lado profissional e ainda totalmente deslocado numa sociedade com a qual não me identifico num contexto geral. Divagar é preciso!


Fabiano Souza - Acho que estas noites estão se tornando cada vez mais vazias. Estamos rodeados de pessoas íntimas e mesmo assim tão estranhas. Às vezes, pensamos que as luzes de uma casa noturna lotada poderá nos dar  a sensação de unidade, mas em verdade, estamos cada vez mais repartidos e tentando compreender surtos estrangeiros em nossos próprios vizinhos. A chance que nos concedeu o destino é uma em um milhão.  É muito bom te-lo por amigo meu irmão! Felicidades.


Porão - Aguardo-os na Porão Fest!


Fabiano Souza - Amém!


texto / entrevista por Porão
fotos: UD ao vivo - festa Distopia -por Porão
outras: acervo Fabiano Souza

Nenhum comentário:

Postar um comentário