quinta-feira, 23 de agosto de 2012

cine noia - por um punhado de dolares

Talvez não haja gênero cinematográfico mais norte-americano que o western. Curiosamente, porém, um de seus clássicos foi inspirado num filme japonês e feito por italianos: Por Um Punhado de Dólares (Per un pugno di dollari, Itália, 1964), dirigido por Sergio Leone.

Em 1960, o diretor John Sturges já tinha ido ao oriente buscar inspiração para o seu western. Sete Homens e um Destino (The Magnificent Seven) era uma nova versão de um filme de Akira Kurosawa, Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai), substituindo os guerreiros japoneses por cowboys americanos. Sergio Leone seguiu a mesma fórmula e também usou um filme de Kurosawa (que depois o processaria por plágio), Yojimbo, como ponto de partida para Por Um Punhado de Dólares.

A história é simples. Um pistoleiro sem nome chega numa cidadezinha perdida na fronteira dos EUA com o México, onde dois grupos rivais, os Baxters e os Rojos, disputam o controle local. Aproveitando a situação, ele atiça o fogo dos dois lados para lucrar como gatilho de aluguel.

No papel principal, um rapazinho que se tornaria símbolo não só dos cowboys mas de todos os valentões da tela: Clint Eastwood. De todo o elenco, ele era o único que falava inglês, todos os outros foram dublados. Interpretando o grande vilão, o italiano Gian Maria Volonté, outro ator que ficaria famoso (não tanto como Eastwood, é claro), principalmente por seus filmes políticos (Sacco e Vanzetti, La Classe operaia va in paradiso, Il Caso Mattei, etc). Por Um Punhado de Dólares custou cerca de duzentos mil dólares para ser feito, sendo quinze mil para o cachê de Eastwood.

Se no western clássico os heróis pautavam-se pela honra, em Por Um Punhado de Dólares as coisas mudam radicalmente. Bem afinado com os anos 60, o pistoleiro aqui mostra-se como uma espécie de rebelde, e só é o "mocinho" porque todos os outros são muito piores que ele. Extremamente violento para a época, o filme era tão árido como a paisagem que mostrava. Poucos diálogos, muitos planos fechados, roupas sujas, barbas por fazer. Clint Eastwood passa quase todo o tempo de cara fechada e com os olhos semicerrados, e contam as lendas da produção que isso era resultado de filmar contra o sol e ter sempre na boca aquele cigarrinho de gosto terrível.

Para mascarar a produção em seu lançamento europeu, os italianos foram inicialmente apresentados com nomes norte-americanos: Sergio Leone era Bob Robertson, Ennio Morricone (em sua primeira trilha sonora para o cinema) era Dan Savio e Gian Maria Volonté era John Wels. Por Um Punhado de Dólares foi um grande sucesso tanto na Europa como nos EUA. Duas continuações vieram em 1966 e 1967, Por Uns Dólares a Mais (Per qualche dollaro in più) e Três Homens em Conflito (Il Buono, il brutto, il cattivo), introduzindo mais um durão na história, Lee Van Cleef (Volonté também voltaria para este último filme, num papel diferente). Mas nenhum deles igualou o ao mesmo tempo lacônico e eloqüente Por Um Punhado de Dólares. As continuações deslizavam um pouco para o lado da comédia, gerando o termo "spaghetti western", enquanto o primeiro da série era seco até em seus raros momentos de humor. Como o cego que passa com um letreiro nas costas, "adiós, amigo".

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