sexta-feira, 10 de agosto de 2012

cine noia - colateral

assistido antes e depois de uma foda (juro!)

Max (Jamie Foxx) trabalha como motorista de táxi há 12 anos, já tendo levado os mais diversos passageiros a todos os locais de Los Angeles. Porém, em uma noite aparentemente tranquila, ele encontra Vincent (Tom Cruise), um homem que pega o táxi como se fosse um passageiro qualquer. Porém Vincent é um assassino de aluguel, que está na cidade para completar o plano de um cartel do narcotráfico, que está prestes a ser condenado por um júri federal. Vincent precisa matar 5 testemunhas-chave do processo e conta com Max para fugir da polícia local e do FBI, logo após cometer os assassinatos. Obrigado a seguir as ordens de Vincent, Max precisa ainda lidar com a possibilidade de ser morto por seu passageiro a qualquer momento, já que Vincent pode usá-lo para proteção pessoal.








Colateral é magistralmente dirigido.  Pudera: Michael Mann é quem está na cadeira do diretor. Seguindo seu estilo realista, ele sabe contar a história com um clima de documentário que parece que toda a ficção encontrada em suas histórias realmente pode ter ocorrido na vida real. O início do filme é a melhor parte, quando Mann consegue desenvolver e criar um clima promissor para a história e seus personagens. Infelizmente, a partir de sua metade (e em alguns momentos já antes dela), o roteiro cai em clichês escandalosos e termina como um suspense policial que qualquer diretor menor poderia ter produzido. Uma pena.
As interpretações, como em todos os filmes do diretor, são magistrais. Acredito que ele tenha o dom para dirigir seus atores, ou pelo menos maquiar interpretações comuns através de suas lentes apuradas. Tom Cruise faz o vilão, pra variar um pouco. Mas não é um personagem tão diferente de seu repertório, afinal o mesmo estilão boa pinta, moderno e dono de si continua presente aqui. O real protagonista do filme é Jamie Foxx, que faz Max, um motorista de táxi experiente que acaba se encontrando por "sorte" com Vincent (Cruise), um assassino profissional no auge de uma importante missão. Max acaba sendo refém de Vincent durante tal missão. Será uma noite infernal de muitos assassinatos, discussões filosóficas sobre a importância da vida humana e o descaso entre as pessoas e, claro, tiroteios policiais.
O roteiro é cheio de altos e baixos. Pelo menos a premissa inicial é interessante. Mas ele acaba recorrendo a clichês irritantes, inocentes e que um diretor como Michael Mann não deveria aceitar dirigir. Só vou citar um exemplo: a cena em que Vincent e Max são parados por uma viatura e, na hora H da revista do porta-malas, os policiais são chamados pelo rádio para "resolverem um caso de emergência". Para não falar de toda a sequência final, um lugar-comum dos filmes policiais que não condiz com o bom nome de Mann. Fogo Contra Fogo é uma obra prima do gênero, Colateral dificilmente conseguiria se igualar, mas poderia ter sido executado de forma bem melhor. Uma boa enxugada no roteiro teria sido de suma importância para transformar Colateral em um ótimo filme. Algumas cenas, mesmo assim, são geniais: a cena em que Max pára seu taxi para deixar dois coiotes atravessarem a rua, em um momento de grande tensão para os personagens, simboliza toda a diferença que os dois possuem como seres-humanos. Esplêndido.
Os coadjuvantes não são de muita importância para a história. Jada Pinkett Smith, como a advogada Annie, tem a maior função, que é criar o clima para desenvolver o personagem de Max, o que é conseguido com um timing perfeito pelo diretor. A partir daí, foi criado um clima de tensão crescente entre os personagens, pena que, como já foi citado, todo o miolo e o final do filme sejam irregular e não muito interessantes (ficando, inclusive, entediante em alguns momentos). Mas o melhor do filme mesmo é a sua direção. Mann conseguiu fazer a partir do roteiro irregular um trabalho excepcional, assim como havia criado uma biografia de Ali não lá muito interessante em um bom filme sobre o pugilista em 2001.
Michael Mann é um daqueles diretores dos quais seus filmes são facilmente identificáveis pelo estilo visual e/ou narrativo. É só passar o olho em uma cena e você já sabe que está vendo "um filme do cara". Só para citar mais um exemplo, Tim Burton é outro diretor de identidade visual própria, ainda mais intensa e única que a de Mann, mas isso é outra história. Em colateral Mann nos mostra uma Los Angeles de amplitude enorme, mas sem um pingo de humanidade. A cidade não é retratada como um lugar de sonhos, como ocorre nos filmes geralmente. Os personagens, ainda que estereotipados pelo roteiro - ladrões, traficantes, mafiosos - são tão frios quanto a cidade. Não é um filme bonito de se ver. E o estilo Mann, com sua câmera na mão e fotografia escura (mas em belíssimo contraste com as luzes da cidade), ajuda a passar uma sensação de desconforto. Um desconforto que significa que o objetivo foi atingido. Ponto para o filme!
Uma curiosidade para os amantes do cinema: filmes como Sem Novidades no Front e Testemunha de Acusação são citados pelos personagens de diversas formas. Mann é, além de um ótimo diretor, um conhecedor do bom cinema. Se tivesse se livrado dos maiores clichês Colateral seria um filmão. Mas não dá pra exigir muito de qualquer forma. Afinal, creio que nos dias atuais, poucos filmes policiais conseguem ser totalmente alheios a estes, e mesmo obras ótimas como Narc têm elementos já aproveitados exaustivamente por tantos outros títulos no mercado. É, ainda assim, um filme acima da média, que vale ser recomendado para quem é fã de policiais.

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