Por Renato Rocha em 14 de Julho de 2012
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Se existem características facilmente identificáveis no cinema feito por Walter Salles, a câmera na mão e a liberdade criativa que dá aos atores estão entre eles. O estilo cria um efeito quase documental que casa perfeitamente com os road movies, gênero que o diretor já visitou com sucesso emCentral do Brasil e Diário de Moticicleta, e ao qual retorna em seu novo projeto, Na Estrada – On The Road (On The Road).
O filme é uma adaptação do livro On The Road, do expoente do movimento beat Jack Kerouac, e conta a história de seu alter ego, Sal Paradise (Sam Riley), um jovem aspirante a escritor nos Estados Unidos da década de quarenta que, logo após a morte do seu pai, conhece Dean Moriarty (Garrett Hedlund), sujeito que o leva a uma vida de experimentações, uso de drogas e de liberdades sexuais, realidades bem distantes do american way da época.
“Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam…”
Esse é o sentimento de Sal Paraise traduzido para o papel logo no início de Na Estrada – On The Road. A loucura a que se refere é a tradução da liberdade em seu sentido amplo. E embora ele se relacione com muitos “loucos” no decorrer do filme, está em Dean Moriarty a síntese desse pensamento. Dean é um libertino (em sua primeira cena ele aparece nu para evidenciar isso), usa drogas, rouba carros, se prostitui, tudo para atender ao chamado da sua alma, como expressão máxima de sua liberdade em fazer o que se quer. Embora pareça uma montanha russa emocional, ele obedece a padrões cíclicos específicos e o filme sugere uma certa ausência paterna como justificativa para esse comportamento, o que acaba tirando um pouco do brilho do personagem.
Walter Salles liga a câmera e deixa os atores trabalharem. O resultado é bom. Vai desde a entrega desinibida de Kristen Stewart às participações de atores renomados, como Viggo Mortensen, Amy Adams e Kirsten Dunst, embora estes apareçam por pouco tempo. Com tantos personagens tão ávidos por falar de forma poética de seus sentimentos o tempo todo, a experiência se torna um pouco maçante e aí é um alívio contemplar momentos onde câmera se dedica a panorâmicas de estradas desertas ou à luz do pôr do sol iluminando um rosto.
A estrada que se refere o filme não é só a que leva os seus personagens pelos estados americanos, é também uma metáfora à vivência, o tanto de quilometragem rodada que é necessário ao indivíduo para ele se tornar ele mesmo. O que não fica claro, porém, é o aprendizado de Sal Paradise. Ele enfrenta o drama da folha em branco enquanto está trancafiado dentro de casa, entediado e no convívio com a mãe, e é só quando se põe na estrada que encontra inspiração. Ao contrário da maioria dos road movies, onde a estrada representa uma jornada de autoconhecimento que leva o personagem a algum amadurecimento, em Na Estrada – On The Road esse sentido se esvazia, já que a estrada parece servir apenas como pretexto criativo.
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