quinta-feira, 30 de junho de 2011

na íntegra!

Meus queridos navegantes, juro que não é uma questão de egocentrismo explícito, mas acabo de lembrar de mais uma perguntinha que rolou antes do pequeno acidente acontecido ao fim do bate papo informal com o Fábio do Reboco! Então, resolvi postar a entrevista na íntegra aqui no Faith com a mesma, sem alterar as fotos escolhidas na edição original...Atentem para a pergunta sobre a mudança da era mecânica para a digital. Infelizmente ela não foi para a edição do Rebôco!

No porão do Porão

Por: Fabio da Silva Barbosa


Depois de uma entrevista maravilhosa, em pura sintonia (ambos de ressaca), eis que dou mole e fecho sem salvar a entrevista que fiz com um dos maiores fotógrafos da atualidade. Mas com esforço de memória e muita boa vontade do entrevistado, consegui trazer até meus leitores, essa grande figura. A entrevista original ficou naquele momento, mas essa reconstituição, feita pelo próprio Porão, remontou bem o ocorrido. Então, sem mais blá blá blá, esse verdadeiro maestro do click: Maurício Porão

Por que a fotografia?

É a forma que tenho de sublinhar e não achar essa minha vida tão escrota e sem graça!

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E o Porão em seu nome? De onde veio?

Do meio para o fim dos anos 80, eu morava em Osasco, na periferia de São Paulo . Sou filho de paulista. Eu ouvia aquele primeiro disco do Ratos de Porão - Crucificados Pelo Sistema - o dia inteiro. Até hoje curto a banda e, principalmente, toda aquela tosqueira do primeiro disco. As pessoas que me conheciam, acabaram me apelidando de Maurício Porão. Costumava levar um cassete para infernizar as festinhas locais. Não pegava ninguém, mas já curtia estragar as festas!

Como se dá a seleção de suas modelos?

Faz dez anos que realizo fotos com modelos exóticas. No início, utilizava como matéria prima humana (termo meu) meninas góticas e / ou punks das tribos periféricas aqui do Rio. Pessoas do meu universo existencial/cultural/social. Havia uma cumplicidade na coisa. Hoje em dia, não há mais esse contexto... De certa forma, o que há em comum entre elas, talvez seja a postura marginal. Mas isso também não é regra, de forma alguma! É claro que as góticas confiam muito mais em mim, pois meu trabalho é muito mais divulgado nas tribos undergrounds da cidade. A beleza... Toda mulher jovem merece e pode ser bela. Eu afirmo isso!

E quanto às locações?

A maior parte dos ensaios que realizei até hoje, foram realizados nos casarões da Glória, aqui no Rio de Janeiro. Esse local, até onde sei, não pode mais ser utilizado, pois foi tomado pela prefeitura, com risco de desabamento. Parte daquelas casas, realmente caiu. Tenho fotos em alguns cômodos que não existem mais. Eu alugava o local com um fotógrafo conhecido no Rio de Janeiro - o Rubinho - que realizava workshops de Art Nude! Creio que fui um dos primeiros artistas a fotografar meninas semi desnudas e fora dos padrões convencionais de beleza no local! Mas há também grandes achados, como as ruínas abandonadas e assombradas do orfanato das Braunes - em Nova Friburgo. Um lugar assustador e belíssimo ao mesmo tempo... Foi onde realizei as fotos com as fadinhas , até hj parabenizado como um dos melhores ensaios que fiz. Há também praias desertas paradisíacas, casas e fazendas abandonadas em Rio das Ostras, onde moro . Mas a grande adrenalina dessa onda de invadir lugares proibidos foi nas Paineiras, aqui no Rio. Era um hotel abandonado, belíssimo e próximo do Cristo Redentor. Eu, a moça fotografada e seu namorado (são amigos que prefiro não divulgar os nomes) esperamos os seguranças partirem e adentramos naquele cenário fantástico! Era fim de tarde, no horário de verão. Em pouco mais de uma hora, realizei o segundo ensaio mais incrível de minha vida até então.

Como definiria sua arte fotográfica:

Amor absoluto e incondicional!

Como é feita a produção dos ensaios? Você mesmo faz a maquiagem ou contrata alguém para fazer? E quanto ao figurino, roupas e afins ?

Costumo comprar roupas, shortinhos, minissaias, biquínis e maiôs em sex shops, brechós, bazares... As vezes estou de bobeira passando pela rua e vejo algo interessante. Se estiver com grana, compro as peças e aguardo a modelo ideal surgir. Sempre surge... Sempre! Fiz isso inúmeras vezes. Ainda estou engatinhando no lance do make up. Se estiver rolando uma grana, contrato uma maquiadora. Se não for o caso, eu e a modelo temos de nos virar...sempre deu certo!

A mudança do analógico/mecânico para a era digital interferiu no seu trabalho ?

Sim, com certeza, peguei o finzinho da era mecânica e toda a breve fase analógica. Sinto saudades do clima noir do laboratório, do silêncio, da sensação de ter fugido  do mundo durante algmas horas. Fato é que sempre fui muito ruim em laboratório mas curtia meus erros  e sou capaz de dizer que fiz coisas muito legais totalmente erradas. Aprendi isso com meu amigo falecido Dida que meteu o pé faz alguns anos. O tratamento de imagens atual da era digital é muito legal também e substitui um pouco aquela onda...mas creio que não chega nem aos pés de todo o contexto de arte e afins...


Existe algum roteiro em seus ensaios ou a coisa nasce na hora?

Existe apenas a base da ideia, de acordo com o cenário decadente! Quase nunca tem grana rolando. Sai tudo no improviso e esse é o grande lance, a grande cachaça, a diversão!


Em média, quantas horas são necessárias para a realização dos ensaios?

Geralmente, umas 3 horas. Uma tarde de sábado, por exemplo! Mas já houve casos de dias seguidos. Uma semana, para ser mais exato. Chamei a striper Mayanna Rodrigues, de São Paulo, que é minha amiga faz anos e uma banger de Nova Friburgo, a Fê. Os corpos das duas são parecidos e achei que ficaria legal. Convidei as duas para minha casa, em Rio das Ostras. Imagina... Duas gostosérrimas dormindo na minha casa durante uma semana. Paguei a passagem e a estadia das duas. Não gastaram nada, absolutamente nada! Viajamos para Friburgo pela Serramar. Foi uma loucura! Ao fim da tour, estava desenergizado... Foi muita adrenalina! Até me questionei a que ponto estava levando minha piração! Mas fôda-se, as fotos...

Seu trabalho também tem uma ligação com o rock!

É fato! Minhas modelos pertencem ao meu universo rocker! A maioria delas... Mas conforme já disse: Hoje em dia não há mais regra alguma. Há algumas patricinhas em alguns ensaios... Mas as góticas continuam confiando mais em mim! Algumas garotas de programa de luxo também já sabem do que se trata o Porão. rsrsrs

Então, aproveitando o gancho, que bandas você curte?

Sou absolutamente aficcionado por rock, em todas as suas vertentes. Só não curto rock pop nacional, desse que toca em rádio convencional. Há cerca de duas semanas, o Peter Hook, ex baixista do joy division/new order, tocou no Circo Voador! Foi um dos dias mais importantes de minha vida. Aquela atmosfera densa, tensa, mórbida, melancólica, desesperadora, um transe coletivo e sombrio. Celebração das sombras e dos prazeres desconhecidos, com direito a olhares de ódio e repúdio da ex namorada que lá se encontrava! A base de minha arte é Joy Division, com várias outras coisas adicionadas hoje em dia!

Você vive de fotografia?

Porra nenhuma. Sou funcionário público, sou antisocial e muito pouco técnico para me prestar a essa proeza. Infelizmente! Meu lance com a fotografia é salvar minha alma submundana desse contexto social escroto ao redor. De vez em quando rola um cascalho. Já estive em lugares longínquos, num contexto fotográfico profissa, onde nunca poderia estar por meio de minha conta corrente.


A última é livre ! Solta o verbo!

Quero mais é que o mundo tome no cu! Já comprei meu KY!

post original:

http://rebococaido.blogspot.com/2011/06/no-porao-do-porao.html?spref=fb

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