Apesar do nome, no filme francês “Copacabana”, não se verá uma cena sequer da praia e nem mesmo de qualquer parte do Brasil. E apesar disso, o Brasil, em especial o Rio de Janeiro, se fez muito presente em todo filme. Seja na trilha sonora toda composta de músicas brasileiras, seja no sonho da personagem principal de conhecer o Brasil.
“Copacabana” é sexto filme de Marc Fitoussi, diretor francês que com esse trabalho, conseguiu sua maior projeção de público e crítica, participando da Semana da Critica do Festival de Cannes e na mostra Panorama Mundial do Festival do Rio.
O roteiro conta a historia de Babou (Isabelle Ruppert), uma mulher, digamos fora do comum. Sem emprego fixo, espontânea, alegre e solteira, Babbou leva uma vida fora dos padrões convencionais. É mãe de Esmeral (Lolita Chammah), que é totalmente avesso e contra o comportamento da mãe. Por esse motivo, Esmeralda não a convida para seu casamento, com medo que ela a embarace na frente de todos.
O filme poderia se concentrar, para o bem ou para o mal, somente nessa relação mãe e filha, mas vai para outro lado. Tenta captar o passo a passo na vida de Babbou. E o espectador passa a se apaixonar por esse personagem, digamos, “louquinho”. E essa relação mãe e filha, é apenas parte de sua historia.
Babbou tem o grande sonho de conhecer o Brasil, “Adoro a música brasileira. Esse país sempre me fascinou” afirma ela em determinado momento. Seu objetivo é guardar dinheiro para realização desse sonho. Ela consegue um emprego como vendedora de apartamentos “time-sharing” em Ostende, uma espécie de balneário da Bélgica, e se muda pra lá.
Curioso observar, as tomadas aéreas naquela cinzenta praia, ao som de músicas brasileiras, como samba e MPB, como se fossem as praias cariocas, como Copacabana por exemplo.
A câmera cola em Babbou. Em mais de 90% do filme, Isabele Huppert está presente em frente as câmeras interpretando a deliciosa Babbou. Estabanada, avessa a obedecer normas, o que lhe causa problemas no trabalho, e também a relacionamentos mais sérios. Ela é até certo ponto, ingênua, mesmo quando magoa seu parceiro por exemplo, é impossível ficar com raiva de Babbou.
O Brasil do sonho da personagem é o Brasil do imaginário gringo. É o país da bossa nova e do samba que estão presentes na trilha sonora. Sempre alegre, o Brasil das mulatas, dos amantes latinos. É o Brasil que não existe, ou melhor, que existe somente nos sonhos. Por isso mesmo, muito bem usado, a imagem do país não sai do cartão postal.
No final do filme, Babbou tem contato com um grupo de samba brasileiro, cheio de mulatas, penas, e pouca roupa, que vai se apresentar na festa de casamento da filha.
Como grande parte dos gringos, Babbou se encanta e dança desengonçadamente entre os sambistas e mulatas. É o ápice desse Brasil “exótico” presente na cabeça dos gringos
O que poderia ser perigoso, o fato de ter a personagem em quase todas as cenas do filme, acaba por se tornar uma das melhores coisas e “Copacabana”. Isabelle Huppert está mais uma vez maravilhosamente bem. Leve, a vontade, Babbou é bem diferente da maioria de seus personagens. Huppert é ganhadora de 2 prêmios de melhor atriz em Cannes e tem recorde de indicação ao Cesar, o maior prêmio do cinema francês.
A curiosidade aqui fica por conta de Isabelle contracenar com Lollita Chammah, mãe e filha na ficção, são mãe e filha na vida real. Essa foi a primeira vez que as duas trabalham juntas.
A fotografia é da experiente fotógrafa Hélène Louvart, que recentemente trabalhou com Win Wenders em “Pina”. Em “Copacabana” a fotografia é comportada, sem grandes firulas, sem grandes momentos. Correta, mas comportada. Sinto falta de uma certa ousadia, ou mesmo planos mais trabalhados.
A trilha sonora é composta somente de músicas brasileira, que vai de “Canto de Ossanha” interpretado por Astrud Gilberto, passando por “Partido Alto” do Chico Buarque, e também o som de Jorge Ben ou de Marcos Valle. É delicioso e curioso ouvir essas músicas totalmente atreladas ao cinema francês.
“Copacabana” é uma comédia divertida, com uma pitada de drama, mas acima de tudo uma comédia. Serve para repensarmos conceitos de vida, conceitos de felicidade e nos questionarmos quanto ao temos como “correto”. Babbou foge disso, vai contra todos os padrões, e mesmo assim, consegue a sua maneira ser uma mulher feliz.
por Jair Santana
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