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É esse roteiro inteligente, entre outras coisas, que faz de Los Angeles – Cidade Proibida (L. A. Confidential, EUA, 1997) um grande filme. O enredo combina uma ótima trama policial, bastante versátil, com uma certa profundidade crítica. À época do lançamento da fita, discutiu-se bastante se ela era um noir ou não. Há realmente muitos elementos que encaixam o filme dirigido por Curtis Hanson (de Garotos Incríveis) dentro do gênero, apesar de a fotografia, extremamente clara, contrariá-lo. Em primeiro lugar, o início da década de 50, época em que se baseia a história, foi berço dos grandes policiais noir de Hollywood. Como nos clássicos do gênero, os heróis são solitários, desiludidos e presos ao passado. A personagem de Kim Basiger, a prostituta Lynn Bracken, cumpre o papel da mulher fatal e misteriosa. Os diálogos explicativos, que muitas vezes evidenciam a personalidade e os motivos de cada personagem, assim como o humor de certos comentários, são também típicos. Com tal combinação de elementos o filme se mostra um clássico narrativo noir, mas que obviamente pretende ser mais do que isso e ir além do gênero para trazer à tona a verdadeira Los Angeles da época.
Tudo no filme é imprescindível para o decorrer da história. Não há cenas ou falas desperdiçadas. A trama é dinâmica e foi muito bem conduzida pelo diretor. A certo ponto, quando o espectador já está instigantemente absorvido pelo enredo, a história sofre uma reviravolta surpreendente, de cortar a respiração, como só os melhores suspenses são capazes de fazer. E para compor o bom trabalho ao lado da direção segura e do roteiro de qualidade não faltam bons atores. Todo o elenco está muito bem, oferecendo ao público atuações na medida certa para personagens muito diferentes entre si. Russel Crowe, Guy Pearce, Kevin Spacey e James Cromwell (de Baby - o porquinho atrapalhado, aqui como o capitão Dudley Smith) dão vida aos personagens centrais da trama e não falham na tarefa de convencer - e envolver - o espectador. Surpreendente é que, dentre tantas atuações de qualidade, a única premiada tenha sido Kim Basiger. Apesar de cumprir bem o papel da prostituta que tem a fisionomia de Verônica Lake, sua personagem não tem notoriedade suficiente na trama para dar a Basiger um momento sequer que justifique o globo de ouro e o oscar que levou.
Das muitas indicações que recebeu, Los Angeles – Cidade Proibida, só ganhou o oscar de melhor roteiro adaptado, além dos já citados prêmios na categoria de atriz coadjuvante. As controvertidas premiações de Basiger podem, talvez, ter sido um tributo à boa qualidade do filme como um todo, pois é triste pensar que a inteligência de uma produção como essa perdeu o oscar de melhor filme para as horas (e litros) de água-com-açúcar de Titanic, em 1998...
texto por Iabella Goulart
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