O filme é, antes de tudo, mais do que uma simples aventura de dois bandidos carismáticos que existiram na vida real e fizeram parte da história norte-americana. Ela também é engraçada, icônica, apaixonante, mortal...
Imediatamente na cena de abertura, Roy Hill já nos deseja revelar os quão amedrontadores e populares são Butch Cassidy (Paul Newman) e Sundance Kid (Robert Redford). A informação que quer ser passada pelo diretor entra com clareza em nossa mente, sem precisar de muito alarde: basta dizer o primeiro nome de algum dos dois facínoras, e convidar o mesmo para ficar no local por algum tempo. Se tudo correr como o esperado, ninguém sai machucado! O método da dupla não poderia ser mais fácil.
A partir de então, a parceria dentro (e fora!) das telas funciona da maneira mais perfeita possível, principalmente quando o filme culmina na antológica e imortal cena da bicicleta: sendo uma das memoráveis em todo o ciclo já percorrido pela sétima-arte, Butch carrega a professora Etta Place (Katharine Ross) e faz piruetas no meio de transporte que chama de “futuro” – referenciando-se a bicicleta – ao som da canção Raindrops Keep Falling On My Head.
um roteiro incontestável e vencedor de Oscar é escrito por William Goldman, proporcionando diálogos marcantes, cenas de um humor refinado, personificações únicas e um tanto quanto diferentes da realidade (o que isto importa para uma obra de ficção?) e situações que duram o tempo correto em tela. Um exemplo é a grande perseguição em busca da dupla: mesmo tomando para si praticamente todo o segundo ato, em nenhum momento ela perde sua elegância; ao contrário, nossa curiosidade em relação ao que acontecerá só aumenta.
Além desta, mais três outras estatuetas ainda foram entregues ao filme, condecorando duplamente o compositor da trilha sonora Burt Bacharach: uma por sua ilustre canção escrita em conjunto com Hal David exclusivamente para o filme e cantada por B.J. Davis (Raindrops Keep Falling On My Head) durante a famosa cena da bicicleta, e outra por sua própria condução na banda de sons.
Já o último dos prêmios foi para a fotografia, de Conrad L. Hall, o qual obteve certo destaque ao trabalhar no velho-oeste de Os Profissionais (Richard Brooks, 1966) e em projetos do diretor Sam Mendes, bem como Beleza Americana (1999) e Estrada para Perdição (2003). Aqui, em sua fase mais inspirada, consegue fumegar fascinantes paisagens desérticas nos mais diversos tons de seu olhar através da câmera: desde um denso sépia envelhecido e poético, até os coloridos que se misturam sobre a terra e as vegetações.
A direção de George Roy Hill, vencedora no BAFTA e apenas nomeada no Oscar, nunca passa dos limites e muito menos se torna pedante. Ele sabe como dirigir sua trupe de atores e se posiciona com classe em seu sexto trabalho dirigido para o cinema – o primeiro com mais reconhecimento por parte do público e da crítica especializada. Anos mais tarde, uma dobradinha do trio Roy Hill-Newman-Redford acontece ao realizar Golpe de Mestre (1973), filme vencedor de sete Óscares (um para Hill!) e responsável por consagrar definitivamente uma das mais ligeiras e certeiras sociedades do cinema.
Finalizando, com um elenco de peso eleito a dedos pelo próprio Roy Hill, as atuações rendidas pelo trio principal (Newman, Redford e Ross) se dão muito acima do normal. Apesar disto, a obra não é realizada somente por eles, sobrando ainda um pouco de espaço a ser preenchido por papéis menores: é o caso do veterano Strother Martin, interpretando Percy Garris.
Nenhum comentário:
Postar um comentário