cine noia - A Caça - mais um Dogma 95 pra dar nó na cuca!

O dinamarquês Thomas Vinterberg fez parte do manifesto Dogma 95 que surgiu de um grupo underground de diretores que estrearam com o brilhante "Festa de Família"  de 1998, cuja história envolvia a revelação de atos de pedofilia cometidos por um pai. Vinterberg volta ao tema agora, pouco mais de uma década, um pouco mais otimista.

Digamos que no sentido de que A Caça, seu mais novo filme, deixa claro, que há esperança na força do sentimento de arrependimento e da retomada dos laços de amizade. Por outro lado, não estamos diante de uma questionável  moralidade que vai do inferno ao paraíso. A a ambiguidade da cena final coroa com maestria um drama realista, deixando claro que enquanto a ignorância e a paranoia tomarem conta da razão, será impossível vivermos num mundo justo pois a irracionalidade tem consequências trágicas. 

A justiça é sobrepujada pela ansiedade por uma solução imediata dos problemas e  passividade é  marca registrada do personagem principal, Lucas, um sujeito solitário e emocionalmente debilitado pela relação distante com o único filho, Marcus. Porém, ao contrário da "monstruosidade" de que é acusado, um ser bastante ponderado e racional.  Exemplo claro é o início de seu relacionamento amoroso com uma funcionária da creche. Desde o primeiro beijo até a primeira transa, é sempre ela quem toma a iniciativa.

 Mas o desempenho do ator Mads Mikkelsen é tão bom que não é difícil perceber o desespero interior de seu Lucas, que só dá lugar à explosão temperamental quando até a namorada, a única pessoa em quem ele aparentemente poderia confiar,  fracassa na certeza de sua inocência.

A trama: Lucas, espécie de inspetor camarada das crianças de uma creche no interior da tão estranha Dinamarca (estranhamento para nós do lado de cá, pois além do Mercyfull Fate, do baterista do Metallica e justamente do Dogma 95 pouso sei sobre aquele país) é acusado por uma das alunas, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), filha de seu melhor amigo, de um ato sexual criminoso: expor seu pênis para a criança. E dessa pequena mentira (pelo menos da forma como é emitida pela menina, sem saber o mal que causaria), a vida do professor é destruída completamente.

Para quem já foi alvo de injustiças, A Caça é  extremamente angustiante e doloroso de assistir. O desesperador filme nos mostra como uma vida pode ser totalmente arruinada por um simples ato impensado e inocente, cujo teor atual implica algo gravíssimo. “A Caça” mostra que a sociedade está tão pronta a repudiar atos monstruosos e a repelir tudo o que o cerca, que tal julgamento facilmente pode se dar de forma completamente errônea. E uma vez manchado um nome, assim para sempre permanecerá. Sinistro demais...

por Porão

trailler:
https://www.youtube.com/watch?v=gwxYwb7NbDI