segunda-feira, 5 de agosto de 2013

K entre nós - Pascoal Ferrari - vocal do Ethiópia - Ainda Ácido

Alguns anos se passaram e o mito Ethiopia, nas falas de seu vocalista Pascoal Ferrari, continua ácido e pouco assimilável. O que importa é apenas a música. Tudo ao redor continua Vazio e sem conteúdo. Tentei desmistificar alguma coisa naquela noite na rua Ceará em que dois integrantes da banda se apresentaram junto com o Finis Africae.


Maurício Porão - Certa vez, faz uns dois anos, estava assistindo a um programa na internet chamado Mask - nem sei se existe ainda -  voltado para cultura pós punk , dark e adjacências. Também não lembro se foi um dj ou um músico dessas bandas paulistas desse restrito circuito under/goth. O cara falou que as quatro músicas do EP do Ethiópia eram uma referência para a toda cena gótica nacional e até mesmo internacional. Você tem consciência disso?


Pascoal Ferrari - Bem, não sei se éramos referência ou não! Ensaiávamos praticamente de segunda a sexta em um estúdio na Urca, na casa do Pollo; Ouvíamos músicas do underground da época e criávamos nosso som em cima disso. Também curtíamos outros de tipo de som como músicas flamencas e outras coisas. Eu particularmente gostava de música brasileira tipo Paulinho da Viola, samba de brék, rap etc. Voltando a sua pergunta, pra falar a verdade, não tenho muita consciência disso não. O nosso EP foi muito mal gravado e pra falar a verdade ficou uma bosta! Mas éramos uma banda muito ao vivo, fazíamos muitos shows e claro que tocávamos mais em SP do que no Rio  e todo show praticamente tinha uma música nova. É isso aí.

Maurício Porão -  Pode ter sido mal gravado mas a música Ethiópia por exemplo ficou com uma sonoridade única. Até hoje ouço aquela guitarra psicodélica em cima de uma levada hardcore e já fico deprê pra caralho! Pode considerar um puta elogio: vocês são um dos responsáveis pela minha faceta soturna faz anos.

Pascoal Ferrari - Pois é, estou estudando com o Pollo uma maneira de conseguirmos ensaiar, porque ele mora em Itaipava, e tentar resgatar algumas músicas e até compor e fazer um outro show completo com pelo menos umas dez músicas. Mas é complicado como tudo nessa porra de Rio de Janeiro. Mas vamos fazer...
Eu adoro hardcore cara ! Estou muito afim de resgatar uma música nossa chamada Guerra que  é uma porrada! Eu me lembro mais ou menos, mas estou correndo atrás para ver se alguém tem essa gravação e aí vamos “botá pra fudê!” (rs)

Maurício Porão - As coisas que ouviam e o que ouvem atualmente: mudou muito?

Pascoal Ferrari - Sinceramente não! Essas bandas mais modernas de hoje em dia eu não conheço muito bem! Sou meio burro, mas ouço de tudo, até moda de viola caipira, pois ganhei uma viola do meu irmão e estou estudando. Como disse: sou caipira do interior de SP e apesar de já estar no Rio há 30 anos, não perdi minhas raízes. Mas veja bem: moda caipira clássica e não essas merdas de hoje que tem por aí. Então ouço de tudo e claro, os bons e velhos punks sempre...

Maurício Porão - Quais são as melhores recordações daquela época? Sempre ouvi dizer que vocês eram extremamente arredios!

Pascoal Ferrari - Bom, as melhores recordações é de que sempre estávamos ensaiando e tocando também! Os shows eram aquelas coisas: muitas caverninhas, as vezes em lugares super mambembes, mas sempre era do caralho! O público em si, na maioria das vezes, na linha de frente do palco, era a rapaziada da Urca, então nos sentíamos à vontade. Repito:  ensaiávamos muito e os shows eram redondos e a rapaziada adorava. Penso que éramos, digamos assim, muito honestos com nosso som!
Com relação às outras bandas, não tínhamos muito boa relação, pelo menos aqui no Rio, porque era a moda daquelas bandas de Brasília. Na verdade lembro-me apenas de algumas bandas legais de quem éramos amigos: SOMBRAS QUE SURGEM , KONGO, DISTURBIO SOCIAL. Agora arredio sempre fomos mesmo, na verdade éramos na nossa e não tinha parada meu irmão: quando a “chapa ficava quente” a gente saia na “porrada” mesmo(rs) Por isso que nossa relação com outras bandas não era muito boa e tocávamos mais em SP do que aqui.

Maurício Porão - Ainda se emociona ouvindo/tocando as quatro músicas? Poderia falar de cada uma delas?


Pascoal Ferrari -  ETHIÓPIA: até hoje ainda há fome na África!! Uma crítica ao capitalismo!;
 FEITO NAVALHA:  é uma letra minha, pois também como você, sentia-me na maior deprê com relação a vida e era foda mesmo! Ainda é, você sabe disso: “ se correr o bicho pega se ficar o bicho come” ;
MINHA VIDA EM SUAS MÃOS: é uma música digamos assim, romântica gótica e com um final não muito feliz!;
VAZIO: a letra é uma poesia do baterista Lúcio Agra que musicamos, mais ou menos isso.

Maurício Porão - O que estão fazendo atualmente?

Pascoal Ferrari – Porão,  trabalho com massoterapia e acupuntura, o Pollo é artista plástico - http://pollorios.blogspot.com.br/, o Lúcio Agra é professor de faculdade em SP, o Vicente Tardin trabalha desde aquela época com computador, não sei exatamente o que ele faz mas sei que é um especialista e está morando em Brasília. Eu e o Pollo sempre nos mantemos contato, inclusive sou padrinho da sua filha Julia; Com o  Lúcio e o Vicente, voltamos a falar agora com essa onda de facebook. Na verdade, foi cada um para seu canto. Ce la vie!

Maurício Porão -  Infelizmente não consegui assistir ao Ethiópia na época: estava por ali nos anos 80, era um punk soturno e solitário. Na verdade ainda continuo meio que assim só que adaptado ao cenário e, infelizmente, ao sistema. As quatro músicas... cara, pra mim ainda são muito importantes pois creio que o tom triste e melancólico delas ainda sublinham exatamente o mundo e os seres com quem vivemos ao redor. O baixo de Vazio ainda me serve de referência a algo de errado e muito estranho que se deu com a minha atual existência e o mundo ainda é uma boa bosta. Porra, eu sei lá o que você vai pensar ao ler isso mas é isso! Considerações finais e voltemos a sobreviver!

Pascoal Ferrari - Só tenho que lhe agradecer meu amigo pela consideração e vamos mantendo contato. Mais uma vez obrigado e um grande abraço.

Maurício Porão - Por acaso tem fotos da banda na época que não seja a do disco?

Pascoal Ferrari - Eu não, mas alguém deve ter!! (rs)

Maurício Porão – Ok, está dito.

Pascoal Ferrari - Valeu Porão!!!!!


Entrevista por Porão




Fotos acervo pessoal da banda

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