Forest Whitaker - Ghost Dog - é um homem de poucas palavras que divide o terraço de um prédio com pombos de estimação e vive segundo preceitos de um texto do século XVIII do guerreiro Hagakure — o livro do Samurai — praticando antigas disciplinas japonesas e aplicando no seu trabalho como assassino de aluguel. Seguindo a tradição samurai, Ghost Dog devota sua lealdade a um só mestre, Louie, um mafioso de pouca importância que, muitos anos antes, lhe salvou a vida. Como assassino, Ghost Dog comunica apenas através do seu pombo correio e move-se na noite como um fantasma, manejando as suas armas, com a perícia e mestria dos samurais. Seguindo ordens superiores da máfia, Louie contrata Ghost Dog para matar Handsome Frank, amante de Louise Vargo, a bela e jovem filha de Ray Vargo, um dos cabecilhas da organização criminosa. Ghost Dog executa o trabalho, mas Louise está no apartamento de Frank quando ele é assassinado. Ghost Dog terá então de enfrentar a família Vargo. Mas Ghost Dog, cujo verdadeiro nome ninguém conhece, não abandonará os princípios de Hagakure: ele é um samurai, acima de tudo e até ao fim. "Ghost Dog: O Método do Samurai" foi realizado por Jim Jarmusch ("Stranger than Paradise", "Homem Morto") e fez parte da Seleção Oficial do Festival de Cannes de 1999.
Jarmusch aborda o submundo do crime americano através de várias óticas, sejam elas artísticas, remetendo a estilos de filmes ou mesmo antropológicas, mostrando gangues uniformizadas, mafiosos de meia idade, imigrantes e afins (sub)urbanos. A relação de vassalagem de Ghost Dog com os mafiosos é explorada através de uma escalada de eventos e intrigas.
É legal observar as conseqüências deste intercambio do submundo, de forma tão explicita, um dos personagens mais marcantes, o mafioso quarentão Sonny Valério (interpretado pelo falecido Cliff Gorman) comanda um decrépito restaurante chinês e aprecia as rimas do Public Enemy.
O argumento sincrético do filme fica claro na trilha com “Samurai Showdown”, o backvocal do rapper RZA – que faz uma ponta no filme – fala “Rashomon! Rashomon!”
Para aqueles que não sabem, Rashomon foi um conto escrito pelo japonês Akutagawa, onde um serviçal e uma velha discutem a moralidade ambígua que representa o ato de roubar para sobreviver, demonstrando assim um paralelo com a cultura marginal dos Estados Unidos, ainda traumatizada pelas revoltas populares de Los Angeles em 1992.
Outros personagens marcantes incluem o anônimo vendedor de sorvete, haitiano, mesmo sem conseguir formar uma sentença em inglês decente, conserva fortes laços de amizades c/ Ghost Dog.
Em outro momento, questiona-se a relação de alcunhas e nomes de guerra das gangues americanas e dos indígenas do passado e em diversos momentos do filme, aparecem atores trajando as cores dos Bloods e dos Crips, duas das maiores gangues que assolaram os Estados Unidos na década de noventa. Enigmático, sombrio e bizarro filmaço!
por Porão
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