Será essa frase de Mr.Ozzy Osborne que ficará em minha memória por décadas (aquelas que me faltam nessa atual jornada) e creio que iconicamente fecham um ciclo. Ao menos por enquanto, não
pretendo mais "encarar" megashows em estádios e/ou festivais. Esse formato me cansou e após o show do Sabbath afirmo que já assisti a todos os meus principais ídolos.
Mais uma vez o texto preciso e sublime do jornalista Marcos Bragato em seu portal - http://www.rockemgeral.com.br - ilustra de forma muito bem resolvida a atmosfera que pairava sobre a Apoteose RJ na noite de 13/10/2013.
Transcrevo-o na íntegra e o releio tantas e tantas vezes: foi lindo demais! Obrigado Black Sabbath e obrigado Bragato. Ninguém melhor do que você para descrever o que aconteceu naquela noite mais uma vez, assim como na sua cobertura sobre o The Cure - http://faith-on.blogspot.com.br/2013/04/a-cura-atraves-da-resignacao.html - no verão passado, nem tento escrever algo tão maravilhosamente ilustrativo.
Porão
"Soberbo
Com apresentação poderosa para 35 mil pessoas, Black Sabbath se reafirma como o grupo mais influente do rock em todos os tempos. Foto: Léo Corrêa.
Publicado em outubro 14, 2013
Antes mesmo de a cortina transparente ser cerrada, os 35 mil felizardos que lotaram a Praça da Apoteose já ouviam os gritos e as gargalhadas sombrias deOzzy Osbourne vindas lá de trás. O sujeito não se aguentava de ansiedade para entrar no palco para, à frente da formação original do Black Sabbath, comandar uma apresentação irretocável de exatas duas horas, com um repertório refinado que alicerça há anos todas as tendências do rock em todas as épocas. E não deu outra: uma fantástica interação entre banda e público, que cantou, ergueu punhos em coreografia instintivamente ensaiada, pulou, aplaudiu, se emocionou. Clichê dos clichês: era a história viva, salubérrima, passando bem ali na frente de todos.
Formação original, sim, em que pese o necessário desfalque do obtuso Bill Ward, cuja ausência se justifica justamente pela falta de saúde que os outros três quartos que estavam na terra arrasada em Birmingham em 1968 ainda têm para dar e vender. E mais. Depois de anos entre brigas sobre a propriedade da marca Black Sabbath, Ozzy tratou de mostrar que está tudo certo, com calorosos abraços no baixista Geezer Butler e no guitarrista Tony Iommi logo na segunda música, a sinistra “Into The Void”. O gesto faz mesmo o sisudo Iommi, sempre compenetrado nas suas seis cordas, abrir um generoso sorrisão. De algum lugar da galáxia, Ronnie James Dio percebe que sua passagem para o lado de lá não foi em vão, mas o marco zero para essa fantástica reunião.
E se o produtor preferiu Brad Wilk, do RATM para gravar o álbum “13”, Tommy Clufetos é o cara certo para espancar os tambores ali atrás. Ele já mostra serviço com mini solos no meio de “Under The Sun”, enquanto telão de altíssima resolução mostra um sem número de ditadores até desaguar na imagem do Papa Bento XVI. Clufetos ainda gastaria mais cinco minutos em um número duro e pesado, em “Rat Salad”, enquanto os outros três tomavam um gole de água lá atrás. Das músicas de “13”, espécie de sequência atemporal de “Sabotage”, de 1975, destaque para a ótima “Age Of Reason”, que reserva grandes momentos da guitarra no rock pesado, prova de que a capacidade criativa de Iommi vai muito bem, obrigado. Embora a abertura tenha sido de cara com o hino “War Pigs”, bastante aplicável ao movimento das ruas da cidade – diga-se -, é com “Black Sabbath” que o Mal reforça a presença. Tocada em tom solene, a música de conteúdo raro criado por Geezer Bulter é a síntese do peso e o prenúncio do que seria a dinastia Black Sabbath desde 1970. E ainda ganha uma sequência de solos do possesso Iommi. De arrepiar.
Equivocam-se os que pensam que Ozzy é um velho gagá. Se no dia a dia tem um comportamento perturbado pelos ossos do ofício de ser um astro do rock e – vá lá – do pop, em cima do palco é frontman que canta – e muito bem -, sabe comandar o povão como poucos e tem, sim, disposição para ficar duas horas completamente inquieto. E ainda é de longe o sujeito que mais se diverte entre os 35 mil, ente baldes de água (menos que nos shows solo), palmas batidas e chamados para que todos enlouqueçam. “Dane-se o mundo e enlouqueça, é bom ficar louco”, decreta. Com o ecoar do riff mais que pesado de “Children Of The Grave”, já no final do show, Ozzy se emociona com o cantarolar espontâneo da plateia e mareja os olhos sem medo de ser feliz. Pense que, em carreira solo no Brasil – exceto no Rock In Rio de 1985 – ele jamais viu tanta gente cantando suas músicas como agora. Nunca é tarde é a lição que fica.
“N.I.B.” é uma das músicas que Ozzy tem decorada de verdade, e, portanto, na qual pode sair da frente do monitor onde as letras das músicas são exibidas como em um karaokê. É aí que ele pega um morcego de borracha lançado pelo público e corre com o artefato dependurado na boca. Fanfarrão, faz galhofa ao repetir a cena que marca toda a sua trajetória, quando, em um show de sua carreira solo, em 1982, em Des Moines, Iowa, nos Estados Unidos, deu uma dentada em um morcego lançado ao palco, só que esse era de verdade. No final do show, uma pomba branca ainda pousaria no alto do palco. Geezer Butler impinge um peso abissal às músicas, mas tem também um momento solo, entre “Behind The Wall Of Sleep” e a própria “N.I.B.”. Junto com Iommi, ele realça um modo de tocar inventado pelo Sabbath que enfatiza o peso e a potência sonora e é a base de tudo o que eles vêm fazendo ao longo de todos esses anos. Não é a aparelhagem de som que parece melhor num show desses. É o Black Sabbath que toca de um jeito próprio e te leva a pensar assim.
Mesmo com um repertório tão bem acabado, a lista de ausências se faz necessária. É uma pena que “Symptom Of The Universe” e “Sweet Leaf” fiquem de fora, e que a fenomenal “Sabbath Bloody Sabbath” tenha só a introdução tocada, antes do desfecho final da noite, com “Paranoid”. Mas como registrar a queixa se, ao mesmo tempo, “Iron Man” varre a Apoteose de maneira implacável com cantorias de todas as 35 mil vozes? E os indefectíveis braços erguidos do heavy metal em “War Pigs”? Ou, ainda, a lindeza das guitarras (no plural mesmo) ecoando na acachapante “Snowblind”? Para um show que se anunciava como um dos melhores em todos os tempos antes mesmo de começar, o retorno foi em dobro. E, mesmo assim, surpreendente por mostrar como aquele som cru e primitivo apontado pela equivocada crônica musical da época se tornou onipresente e atualíssimo até hoje. Que assim permaneça."
Set list completo:
1- War Pigs
2- Into the Void
3- Under the Sun/Every Day Comes and Goes
4- Snowblind
5- Age of Reason
6- Black Sabbath
7- Behind the Wall of Sleep
8- N.I.B.
9- End of the Beginning
10- Fairies Wear Boots
11- Rat Salad
12- Iron Man
13- God Is Dead?
14- Dirty Women
15- Children of the Grave
Bis
16- Paranoid
por Marcos Bragato
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