Zorba the Greek é um filme greco–americano de 1964, baseado no romance homônimo de Nikos Kazantzakis. O filme foi dirigido por Michael Cacoyannis e o personagem-título foi interpretado por Anthony Quinn. Na trama divertidíssima, um escritor inglês - Basil (Alan Bates), um inglês da alta classe-média - chega a Grécia e pega um navio, pois vai até Creta para trabalhar em uma mina que herdou do pai, um grego de nascença. Logo ele conhece Alexis Zorba (Anthony Quinn), um determinado camponês grego que também quer trabalhar na mina. Os dois acabam indo se hospedar em um pequeno hotel administrado por uma velha prostituta francesa que é cortejada por Zorba, que encoraja seu amigo escritor para dar atenção a uma bela viúva, que é muito desejada pelos homens do local. A mina necessita de alguns reparos, mas Zorba convence um grupo de monges que permita remover um pouco da madeira de uma floresta deles, que fica em uma montanha próxima e inventa um meio de transportá-la para a mina.
Quando Zorba e seu patrão retornam à cidade, a velha prostituta ajuda o inglês a superar sua timidez. Assim, ele toma coragem e vai visitar a viúva e os dois acabam fazendo amor. Mas rumores começam a percorrer a ilha após o escritor ter sido visto entrando na casa dela e um dos muitos admiradores da viúva é tomado pelo desespero e se suicida. Em virtude deste acontecimento, os aldeões começam a apedrejá-la e o escritor, testemunhando tudo aquilo, manda chamar Zorba. Quando ela está prestes para ser esfaqueada, Zorba chega e interfere, fazendo o agressor soltar a arma, mas quando tudo parecia contornado ela, em um momento de descuido, é apunhalada pelo pai do jovem que se matara. Sentindo que a prostituta estava prestes a morrer, Zorba bondosamente concorda em se casar com ela e enquanto trabalha na mina fica sabendo que a saúde dela piorou. Ele volta rápido e ela morre em seus braços mas, apesar das mortes, o trabalho não pode parar e a vida continua com todo seu esplendor, não importando o que aconteça.
Pessoas cruzam as nossas vidas o tempo inteiro. Algumas delas ficam; outras não. Algumas marcam para melhor. Outras, para pior. Outras são insignificantes (a maior parte sem dúvidas). Sorte daquelas que tem a bênção de encontrar um Zorba. Acho que podemos dizer que Zorba, o Grego (tradução livre para o português), trata-se de uma obra-prima de Cacoyannis (que, infelizmente, será marcado para a eternidade apenas por este filme, ainda que sua carreira se expanda em no mínimo outras três obras relevantes), pois mais do que um filme, é uma experiência de vida — e estou certo de que o livro que deu origem a ela, escrito pelo mesmo Nikos Kazantzakis de A Última Tentação de Cristo, é uma experiência literária impactante e fascinante. Zorba é um daqueles filmes que mudam sua forma de percepção do mundo em cerca de 140 minutos: Zorba é mais que um escudeiro (longe disso, para ser sincero), ele é o único amigo de Basil e também será o responsável a levá-lo a uma magnífica jornada de autoconhecimento e… enfim, participar da vida. Zorba sempre será mais influente que Basil ao ponto deste último perder a identidade e ser chamado apenas de Chefe.
Cacoyannis não mede esforços para transformar Zorba numa força da natureza. Alguns desses são mais óbvios (Zorba saindo de uma mina recém-dinamitada e perguntando “O quê?”), outros deles são mais efusivos e complexos, como quando o grego começa uma dança louca e frenética. O que é interessante de observar neste último exemplo é que ele não quer simplesmente dizer ao espectador que Zorba é alguém que curte a vida, meio louco e tal. Na verdade, é mais complexo que isso.
Eu acredito piamente que Zorba, o Grego, não é — como pode parecer — um filme sobre Zorba. É um filme sobre Basil. Basil é qualquer um de nós — classe-média, anestesiado, “intelectual”, etc. Veja bem, ele é um cara soterrado em livros, passa a maior parte do filme em segundo plano, tímido, retraído. Apesar de ele ser o “chefe”, ele não está numa posição de comando. Zorba é quem ensina a viver a vida. Quando Zorba sai da mina dinamitada e pergunta “O quê?”, isso não é apenas uma tentativa de Cacoyannis de transformar Zorba num sujeito sem medo da morte — é Zorba que tenta mostrar para Basil que… bem: Se morreu, morreu.
Zorba é uma grande jornada de aprendizado. Eu acho que qualquer um de nós — vítimas da era moderna, atrás de computadores — pode se identificar com o pobre Alan Bates. Quer dizer, mesmo que o filme seja de 1964 (e o romance de Kazantzakis tenha sido publicado muito antes disso), todo mundo pode ser Basil. Pensamos demais, racionalizamos demais, mas esquecemos de sermos criaturas sentimentais. Zorba , o Grego é um filme que nos leva a refletir sobre o sentido da vida, da mesma forma que Alan Bates se pergunta se é certo ler tanto — se ele é, de fato, um escritor. Logo após uma cena de assassinato particularmente brutal (mesmo que Cacoyannis mantenha o ato em si fora de quadro, o que torna tudo ainda mais genial), Zorba se pergunta por que os jovens devem morrer e para que diabos serve todos os livros de Basil. Basil, após hesitar alguns instantes, responde que eles falam sobre o sofrimento de homens que não tem respostas para as perguntas de Zorba. Zorba cospe para o sofrimento deles. Acontece que os livros jamais ajudarão Basil a responder a pergunta de Zobra, pois a única forma destas perguntas serem respondidas é se Basil viver a vida. Creta, para Kazantzakis e Cacoyannis, é uma miniatura do mundo: Gente nasce; gente morre; gente faz coisas boas e más. Mas ainda são gente...Zorba, o Grego é um filme para a vida.
edição de texto e pesquisas por Porão
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