Mais uma parte da conversa muito interessante e esclarecedora com o maior gaitista brasileiro (isso mesmo, eu não disse o melhor gaitista de blues brasileiro e generalizei mesmo como o melhor instrumentista do país). Confiram.
entrevista por Maurício Porão - www.olhares.com/porao
foto principal de Renata Duarte
fotos em PB - por M.Porão : BE nos Festivais Macaé Sobre Duas Rodas de Macaé RJ e Psicodália - Rio Negrinho SC - ambos em 2012
fotos em PB - por M.Porão : BE nos Festivais Macaé Sobre Duas Rodas de Macaé RJ e Psicodália - Rio Negrinho SC - ambos em 2012
Porão - Como fotógrafo percebo uma pequena semelhança entre a fotografia profissional e o "tocador gaiato"(olha o trocadilho) em alguns bares rocker`s e/ou blueseiros por aí. O que pensa sobre isso?
Flávio Guimarães - A harmônica, por ser um instrumento de baixo custo, pode ser facilmente adquirida por qualquer um. Muitas vezes o cara ainda não está pronto pra tocar de verdade mas tem aquela ansiedade pra interagir com uma banda e quer subir no palco. Nesses caso, a gaita pode facilmente se transformar num instrumento “ingrato”.
Porão - Além da gaita e do canto há alguma outra manifestação artística que lhe fascina? Poderia falar a respeito?
Flávio Guimarães - Com certeza, todas as manifestações artísticas me interessam. Sou fã de cinema, artes plásticas, literatura, fotografia.
Porão - Em seu site particular é citado " a gaita é capaz de algumas das mais diretas expressões do sentimento blues". Num estilo tão guitarrístico não soa um tanto quanto presunçosa essa afirmação?
Flávio Guimarães - A harmônica chegou nos EUA no final do século XIX. Era justamente nos primeiros anos do blues e rapidamente foi incorporada pelos negros recém libertos, já que era o instrumento de menor custo na época.
É um instrumento seminal da história do blues e está presente nesse estilo desde seus primórdios, pelo menos uns 40 anos antes da guitarra elétrica ser inventada.
O jeito de tocar harmônica inventado pelos negros norte americanos revolucionou as possibilidades do instrumento e é baseado na imitação da voz. A guitarra elétrica começa a ter destaque a partir da década de 60 .
Concordo que a guitarra, hoje em dia, depois da voz, seja o principal instrumento do blues, mas os primeiros instrumentistas a se destacarem e serem de fato populares nesse gênero foram os gaitistas , nas décadas de 40 e 50.
Porão - Você aprendeu a tocar blues convivendo com Sugar Blue - antigo gaitista dos Rolling Stones - Também pode conviver com vários ícones da gaita norte americana como Charlie Musselwhite e Rick Estrin.
Flávio Guimarães - Aprendi ouvindo discos e também convivendo com esses músicos americanos que você citou, com quem tive a sorte de conviver e trabalhar. Mas Também aprendi muito coletivamente nos ensaios com meus amigos do Blues Etílicos.
Porão - Aqui no Brasil, você desenvolveu um estilo particular e próprio. Acho tudo isso muito lindo, digno, interessantíssimo e forte mas acaba sendo algo totalmente elitizado para os padrões pobres (em todos os sentidos), inclusive de informação e cultura de nosso país.
Flávio Guimarães - Hoje em dia , com a internet, a informação está aí pra todo mundo, em todas as classes sociais.
Os padrões mudaram e há muito mais democratização da informação , apesar dos imensos problemas brasileiros na Educação.
Porão - Acredita que o blues nacional merecia estar num outro patamar ou isso acaba sendo utópico, devido à pouca informação da maior parte do público?
Flávio Guimarães - Não. Acho que está num patamar bom demais até. Temos artistas de nível internacional que se apresentam nos melhores festivais internacionais. Aqui no Brasil temos também mais de 20 excelentes festivais de blues. É um mercado aquecido , com público fiel, numeroso e que independe da grande mídia. Mas posso concordar parcialmente com sua colocação em relação ao Rio de Janeiro, que é um dos estados com menor informação do público sobre esse gênero musical.
Porão - Moro numa cidade onde ocorre um dos principais Festivais do gênero - Rio das Ostras Jazz & Blues Festival e afirmo que boa parte do público só ouve/ouviu falar dos músicos (principalmente dos internacionais) durante a realização do mesmo; o que poderia e/ ou gostaria de falar sobre isso?
Flávio Guimarães - Sem dúvida, o mais interessante é que o público não precisa conhecer o artista para de fato gostar da sua música ao entrar em contato com ela. O Festival de Rio das Ostras é um dos 5 melhores do mundo.
Porão - Pegando um gancho na pergunta anterior, quais os festivais brasileiros mais importantes e mais legais que ocorrem no Brasil?
Flávio Guimarães - O MDBF , em novembro na cidade de Caxias do Sul (RS) é o meu favorito pois a interação entre os músicos brasileiros e internacionais é muito grande. Os shows começam às 18:00 e as Jam sessions terminam às 10:00 da manhã do dia seguinte. A maior maratona de blues do mundo.
Meus favoritos, além de Rio das Ostras, são o Vi Jazz (MG), Santa Teresa Jazz & Bossa (ES), Fest Bossa e Jazz de Pipa (RN), Circuito Sesc in Blues (SP), Garanhuns (PE), Encontro Internacional da Harmônica (SP). São muitos os eventos bacanas e a lista é grande.
Porão - E lá fora?
Flávio Guimarães - New Orleans e Chicago são meus favoritos. O de Cazorla na Espanha é muito bacana, toquei ano passado nesse tradicional festival europeu.
Blues Etílicos no OSTRA CYCLE em Macae RJ 2012 e no Psicodalia - Rio Negrinho Santa catarina - 2012 - fotos de M.Porão
http://faith-on.blogspot.com.br/2014/04/claudio-bedran-o-papo-e-blues-etilicos.html
parte 02:
http://faith-on.blogspot.com.br/2014/04/o-pao-e-blues-etilicos-parte-02.html
parte 03:
http://faith-on.blogspot.com.br/2014/05/otavio-rocha-o-cara-das-bases-o-papo-e.html
parte 04:
http://faith-on.blogspot.com.br/2014/05/o-papo-e-blues-etilicos-quarta-parte.html
parte 05:
http://faith-on.blogspot.com.br/2014/05/o-papo-e-blues-etilicos-flavio-gumaraes.html
parte 02:
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parte 04:
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obs: ainda dava pra dar mais umazinha pois é que nem sexo gostoso! mas a estrela simplesmente ignorou minhas últimas perguntinhas.
Boas fotos!
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