quinta-feira, 10 de julho de 2014

cine noia - Praça Saens Peña


Drama é uma declaração de amor à Tijuca, mas que talvez apenas os tijucanos entendam

por MARCELO FORLANI
post original - https://omelete.uol.com.br/filmes/criticas/praca-saens-pena/?key=45626


A Praça Saens Peña, no bairro da Tijuca, empresta seu nome ao primeiro longa-metragem ficcional do diretor Vinícius Reis. O filme é, na verdade, uma declaração de amor do cineasta ao bairro do norte carioca. O projeto surgiu quando os atores Maria Padilha e Chico Diaz, empolgados com a estreia de Vinicius, o documentário A Cobra Fumou (2002), o incentivaram a se enveredar pela ficção.

O estilo de documentário permanece na narrativa e no roteiro, bastante didático. Chico interpreta Paulo, um professor de literatura do ensino médio. Maria Padilha é Teresa, sua esposa, que trabalha como gerente em uma lanchonete. E Isabela Meireles é Bel, a adolescente filha dos dois. Os três moram em um apartamento na Praça Saens Peña, onde sofrem com o calor da cidade.

Apaixonado pela Tijuca, Paulo coloca na Internet artigos que escreve sobre o bairro, com histórias de personagens famosos que viveram ou vivem por ali. É por conta de um desses textos que ele é convidado para escrever um livro sobre o local. Empolgada com o sonho do marido que está se concretizando, Teresa começa a visitar apartamentos à venda. É em uma dessas visitas que ela conhece João (Gustavo Falcão), um músico que quer se mudar para o Leblon. Os meses que seguem a redação do livro, em um infindável e abafado verão, servem de teste definitivo para a união da família, com brigas pelo uso do computador, ausências e desgastes.

Embora seguro com a câmera e a direção de atores, Vinicius deixa a inexperiência pesar na narrativa. A vontade de falar da Tijuca e o cotidiano do Rio de Janeiro atrapalha o desenvolvimento da trama. As histórias pessoais de cada um dos personagens perde força cada vez que entra um fato histórico sobre o bairro, quebrando o clima. É o caso, por exemplo, da entrevista de Paulo com o compositor e escritor Aldir Blanc, com cortes secos que gritam ao público a falta de uma segunda câmera para fazer uma edição mais fictícia.

Fora isso, fica difícil acreditar que uma mãe de família que tem os pés no chão e faz economia em tudo ache que vai conseguir comprar um apartamento próprio com um adiantamento de 3 mil reais de um livro. Assim como também é anticlimática a não-discussão entre Teresa e Paulo. Falta diálogo não apenas ao casal, mas também ao filme.

Talvez os cariocas, em especial os tijucanos, se emocionem mais ao ver as ruas dos seus bairros no cinema. Mas é difícil acreditar que quem é de fora vai se sentir tocado a ponto de fazer uma visita e conhecer a tal praça Saens Peña.

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