Basta uma horinha só. Ou, por outra, nem isso para o Nuclear Assault mostrar pela primeira (e última?) vez ao público carioca o por que de ser tão adorado pelos fãs, em uma apresentação urgente, pesada, suja e acima de tudo, com uma pegada adolescente. Explica-se que grupo ocupa uma faixa intermediária no universo do thrash metal, aquele subgênero do metal que nasceu da fusão entre metal e hardcore, cuja vocação era destruir uns aos outros até então. Por isso o legado que marca o show do Teatro Odisséia, nesta terça (25/8) é de festa, alegria e muita agitação, em rodas de pogo de se anotar no caderninho. Já que o show é curto, já que a música é urgente, o negócio é se acabar o mais rápido possível. Faz sentido.
Quem foi para a Lapa pensando no icônico videoclipe de “Critical Mass”, rodado em frente a pontos de extração de petróleo com uma simplicidade atroz, tem que refrescar a memória para outras músicas do quarteto, típica formação do thrash. A música, tocada logo na primeira parte, é, sim, um dos pontos altos do show, com o baixola John Connelly mostrando ótima forma vocal, naquele timbre que lhe é característico e que se salienta como um diferencial no Nuclear Assault. Mas se acentua fortemente o berço hardcore do grupo, em crossovers memoráveis como “Hang The Pope” e a singela “Butt Fuck”, que desencadeiam violentas rodas de pogo habitadas por gente vestida à caráter: colete cravejado de patches, calça justa de cano apertado e tênis de couro cano longo. Anos 80, here we go again!
Ajuda muito o fato de o repertório ser todo calcado em dois discos clássicos do Nuclear, o marcante “Handle With Care” (1989), no auge da fase thrash, e “Game Over”, que marca a estreia da banda, em 1986. Por isso, têm vez “Trail Of Tears”, que descamba para um festival de palhetadas e uma rifferama dos diabos em ótimas evoluções instrumentais, e também a totalmente instrumental (!) “Game Over”, que realça ainda mais a boa técnica dos músicos. Se Connelly passa boa parte do show zoando o outro guitarrista, Eric Burke, é frequente o desafio proposto e aceito de parte a parte com as duas guitarras solando sem fim em meio a tanto esporro. É o que acontece, por exemplo, em “Sin” e “Betrayal”, que aparecem coladas.
Quem brilha na seção hardcore é o baixista e vara pau Dan Lilker, aparentemente o Nuclear preferido do público, com a expressão de desdém, o símbolo do metal erguido aos céus e vocal grunhido que se contrapõe ao de Connelly. Na sintomática “Analogue Man in a Digital World”, ambos se revezam e o resultado é dos melhores. A música é uma das duas do novo EP do grupo, “Pounder”, lançado em junho, a entrar no repertório. A outra é “Died in Your Arms”, um clássico thrash metal bem trabalhado e de duração estendida que sugere que o Nuclear ainda tem muito que contribuir para o metal contemporâneo. Tocadas em sequência, apenas segunda movimenta o público. Para o bis, só “Justice” é tocada, como tem acontecido em toda a turnê pelo Brasil, e aí, no último gás, explode a roda de pogo mais agressiva da noite, autenticando a imagem de alegria que só o thrash metal de raiz pode proporcionar.
Na abertura, o Trator BR fez um ótimo show, com um repertório voltado para death metal extremo, mas com uma pegada crust. Curiosamente para o gênero, a banda canta em português – dá pra perceber apesar dos vocais rasgados do bom vocalista Satã BR – e se sai muito quando o assunto é velocidade e poucos solos. A precisão do baterista Verme BR é o segredo do grupo, em que pese a técnica dos dois guitarristas, muito bem alinhavados entre si. Antes, o Forkill Thrash abriu a noite, mas as dificuldades de acesso ao Teatro Odisséia – uma terrível tradição da casa – não permitiu a entrada a tempo. Uma pena.
Set list completo Nuclear Assault:
1- Rise From the Ashes 2- Brainwashed 3- New Song 4- Critical Mass 5- Game Over 6- Butt Fuck 7- Sin 8- Betrayal 9- Died in Your Arms 10- Analogue Man in a Digital World 11- F# (Wake Up) 12- When Freedom Dies 13- My America 14- Hang the Pope 15- Lesbians 16- Trail of Tears 17- Technology Bis 18- Justice
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