Um ano depois das manifestações ocorridas durante a Copa das Confederações, chega ao circuito comercial o documentário Junho - O Mês que Abalou o Brasil. De título preciso, o filme a princípio pode soar oportunista. Não apenas pelo aniversário dos eventos, mas também por ser lançado às vésperas da Copa do Mundo, cuja magnitude pode atrair situações parecidas ou até maiores, e também como tentativa de influenciar um complicado ano eleitoral. Entretanto, o pré-conceito se desfaz no decorrer do filme dirigido por João Wainer, um relato abrangente e plural sobre o que aconteceu no período.Bastante didático, Junho segue os acontecimentos de forma cronológica, apresentando as queixas e os fatos dia após dia. Do Movimento Passe Livre ao caos do transporte público nas grandes metrópoles. Da truculência policial à formação educacional (e histórica) da população. Do #vemprarua aos diferentes grupos que, cada um com seus interesses, ampliaram a gama de reclamações sobre o status quo. Das redes sociais ao jornalismo-cidadão, produzido no olho do furacão. Das críticas à imprensa à reviravolta realizada por alguns veículos de comunicação. Tamanha diversidade fez com que um manifestante não pensasse duas vezes antes de dizer: "O Partido dos Loucos foi criado".
De loucura, é claro, não há nada. Mas impressiona a imensa quantidade de temas que se misturaram naquelas semanas de eventos intensos e explosivos, ainda mais quando analisados com um certo distanciamento. É bem verdade que ainda é cedo para se ter plena noção do impacto das manifestações na sociedade brasileira, o máximo que se pode ter é a noção de consequências imediatas, importantes mas que tendem a se perder em um contexto histórico a longo prazo. Junho, o documentário, tem como grande mérito a recriação deste "caos temático". Mesmo sem se aprofundar tanto em cada um dos assuntos abordados, eles são lembrados de forma a justificar o porquê de terem vindo à tona. E, neste ponto, vem o trunfo do filme: a edição.Diante da enxurrada de imagens produzidas sobre as manifestações, houve um trabalho minucioso que fez com que, em meio às explicações diárias, surjam verdadeiras pérolas. Como a conversa entre um manifestante mascarado e um policial, cada um apresentando seu ponto de vista sobre o evento. Ou a análise sobre o uso de balas de borracha, aproveitando uma oportuna associação com o método de atuação da polícia nas periferias. São momentos que, por si só, revelam mais do que qualquer narração em off e que retratam tão bem o descontentamento geral existente naquele momento.
Com tanto material em mãos, Junho consegue ser uma bela síntese sobre o que foram as manifestações de 2013 em suas várias fases. Chama a atenção a pluralidade de depoimentos, vindos tanto de analistas políticos quanto de manifestantes desconhecidos e representante da Mídia Ninja, assim como a diferença de ritmo de narrativa entre as duas metades. Se de início há muita câmera nas ruas e foco na população, depois o olhar muda para o ambiente político e suas reações, naturalmente mais vagarosas. Se falta algo? É claro que sim, afinal de contas é muito a ser dito para apenas 72 minutos. Entretanto, mais até do que uma mera recapitulação, o filme desperta uma reflexão sobre o dia seguinte. Diante da grandiosidade do ocorrido, não apenas pelas reivindicações mas especialmente pela manifestação popular, o que mudou de fato?O poeta Sérgio Vaz, bem humorado, resumiu em depoimento dado ao filme: "Acho que o Brasil tem ejaculação precoce. Foi lá, deu uma, isso aqui é revolução e já deu". Entretanto, mais do que respostas concretas - importantes, é claro -, o que já se pode notar é uma mudança de mentalidade. Não é à toa que a Copa do Mundo, em nossa própria casa, tem sido tão pouco esperada pelos próprios brasileiros.
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http://www.adorocinema.com/filmes/filme-229030/criticas-adorocinema/
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