O documentário ‘70’ mostra elementos da história do Brasil pouco revelados e reencontra 18 desses personagens, 40 anos depois. A direção é da jornalista Emília Silveira e o roteiro de Sandra Moreyra.
O filme esteve no Festival do Rio em 2013, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Fest Aruanda, na Paraíba, onde recebeu o Prêmio Especial do Júri e o de Melhor Filme de Longa Metragem pelo Júri Popular. Seguiu para o Festival de Cinema de Mulheres no Chile, para o festival do Cinema Brasileiro de Paris e o Festival Internacional de Documentários de Londres.
“É um filme no presente, que traz lembranças que aconteceram há 40 anos. Elas existem no presente e têm o passado dentro das pessoas. Você jamais vai conseguir rasgar um livro e jogar as páginas fora porque o passado pertence. É um filme de 40 anos atrás, mas presente, com quem são as pessoas hoje”, explica a diretora.
“A gente costuma falar que a história deles, dos 70, é a história do Brasil. É uma história que, se você contar, tem os elementos da história do Brasil pouco revelados, mas tem essas lembranças afetivas desse grupo de pessoas, que é um grupo especial. Esse grupo chegou muito perto da gente, porque a Emília foi uma presa política, conheceu esses 70 intimamente, foi casada com um dos 70. A história estava perto, muito próxima”, conta a jornalista e roteirista.A história dos 70 é a história do Brasil"
Sandra Moreyra, roteirista de '70'
“Nosso primeiro roteiro indicativo tinha oito nomes, que, para um filme de 90 minutos, está mais do que suficiente. A gente foi se encantando com as pessoas e foi pensando: ‘Como é que a gente vai deixar fulano de fora? O documentário é difícil por isso. Você tem que de alguma maneira se aproximar dessas pessoas, para que na hora em que você abra a câmera essa pessoa seja ela mesma, e não seja uma pessoa montada só com o discurso político que ela está acostumada a repetir durante anos. De repente, a gente tinha entrevistado bastante gente, e chegamos a 18 pessoas. É uma pena que alguns tenham ficado de fora por questões de produção, porque todos eram maravilhosos, mas não cabia mais em 90 minutos. Tinha que dar espaço para eles. A gente imaginou que o filme não era para contar a história. Era para contar a emoção, as vivências, quem são aquelas pessoas hoje e o que do passado sobrou de ideais, de sonhos, e que de certa maneira permanece”, lembra Emília Silveira.
A diretora conta que o material bruto é muito bom e interessante, e que as duas pensam em fazer um livro. “A estrutura da linguagem e do conteúdo do filme foi tirar tudo que era discurso político e a não vitimização. O objetivo é mostrar quem são essas vidas. Na verdade é um filme de superação”, conta a diretora.
“O que mais chama atenção neles eu acho que é isso. Eles são grandes sobreviventes. Eram pessoas muito jovens, estudantes universitários na maioria, alguns não estavam na universidade, mas a maioria pertencia à elite brasileira da época. E vão para a luta armada, são presos, torturados, sofrem. Muitos jovens vão lá, trocados no sequestro, banidos do país, o que significa que se tornaram pessoas sem pátria, porque não tinham um documento”, ressalta Sandra Moreyra.
“São pessoas absolutamente comuns, é o que eu queria mostrar também. Não é dizer que o sofrimento não deixou sequelas. Não é isso, deixou sérias sequelas emocionais. É um filme sobre a capacidade do ser humano superar situações-limite e passar como perder um filho, como ser torturado. Coisas que você diz: ‘Eu não vou ter condições de superar’. E você tem condições, porque o ser humano tem condições de superar. Então, é um filme sobre o ser humano”, completa Emília Silveira.
post original com pequenas e providenciais adaptações:
http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/03/almanaque-apresenta-bastidores-de-documentario-sobre-ditadura.html
Documentário reencontra militantes trocados pelo embaixador suíço durante ditadura

Cena de "70", destaque da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: humanização de personagens da História
São Paulo – "'Guerrilheiro, fdp, mão na cabeça!' Passaram-se uns segundos até eu realizar que eu era o guerrilheiro." "Arrombaram a porta e a gente já acordou debaixo da ponta dos fuzis." "Quando eles me levaram pro DOPS já era de noite, umas 18h30. Estavam acendendo as luzes, aquele lusco-fusco, as favelas iluminadas... A única coisa que eu pensava era o seguinte: 'P*! é a última vez que eu estou vendo estas favelas do Rio'". Imagens de arquivo e fotos de presos políticos são mostradas enquanto estas frases são ditas. É assim que começa o documentário "70", que será exibido nos dias 22, 23 e 24 de outubro na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Dirigido por Emilia Silveira, o longa-metragem entrevista 18 militantes libertados em troca de Giovanni Enrico Bucher, sequestrado por grupos de combate à ditadura em 1970. Foram quarenta dias de cativeiro, o mais longo sequestro político da história do país. Em troca da liberdade do embaixador suíço, os sequestradores queriam − e conseguiram − a liberdade de setenta presos políticos.
Mais de quarenta anos depois, Emilia reencontra estes personagens para resgatar parte desta história. Quem são estas pessoas? O que pensam? Como conduziram suas vidas? O que restou dos ideais e dos sonhos da juventude? Quem eles eram e o que pensavam aos 20 anos? O que esperavam do futuro? Estas são algumas questões respondidas por Wilson Barbosa, Nancy Mangabeira Unger, Vera Rocha Dauster, Ismael J. de Souza, Marco Maranhão, Jaime Cardoso, Mara Curtiss Alvarenga, Affonso Alvarenga, René de Carvalho, Bruno Dauster, Elinor Brito, Chico Mendes, Jean Marc von der Weid, Reinaldo Guarany e Luiz Sanz.
Como eles mesmos se definem, estes "sobreviventes" são protagonistas de uma história não oficial. Com tantas marcas deixadas pelas torturas que sofreram, pelas perseguições e pelo exílio, suas lembranças resgatam parte de um período tenebroso da história do Brasil. São impressões e reflexões (nem sempre homogêneas) sobre táticas, ideais e ações que tiveram consequências profundas na vida de muitos jovens da época.
Por meio de imagens de arquivo, o filme também dá voz a três personagens mortos: frei Tito de Alencar, Maria Auxiliadora Lara Barcelos (Dora) e Carmela Pezzuti. "Frei Tito se pendurou num galho de árvore e se enforcou em um bosque na França. Dora se atirou debaixo das rodas de um trem em Berlim. Várias outras pessoas morreram, de alguma forma, empurradas pelo que tinham sofrido", lembra Marco Maranhão no filme.
"Na história sempre acontece alguma coisa: se você está dentro de um paiol de munição e está sozinho, tudo bem; se você está com mais 20 ou 30 pessoas, o risco se multiplica por 20; se você faz um churrasco com cerveja e cachaça, o risco talvez se multiplique por 600. E o que era a sociedade brasileira em 1969, 1970? Era um churrasco dentro de um paiol de munição com cerveja e cachaça. Alguma granada ia cair no chão e explodir aquele troço porque a ditadura era filha da mãe, os estudantes e operários eram reprimidos, militares expulsos... Então, alguém ia reagir", resume o professor de História da USP, Wilson Negão.
Um dos trunfos do filme é quando os personagens falam sobre como aqueles episódios marcaram suas vidas pessoais. A lembrança que Guarany guarda de Dora no dia em que ela se despediu dele para sempre, antes de se suicidar, são comoventes. Mas o ponto alto é o discurso emocionado do educador, jornalista e cineasta Luizão, quando lembra que sua dedicação integral à luta contra a ditadura fez com que perdesse o convívio com a família.
A dor da tortura emocional e física, a ansiedade pela liberdade, o medo, a emoção de chegar como "estrelas" no Chile de Salvador Allende, em 1971. As lembranças dos personagens conduzem o espectador a um universo íntimo que geralmente fica de fora dos livros de história.
Por mais que possa ser considerado mais um filme sobre a ditadura militar brasileira, "70" reforça que não se pode esquecer aqueles tempos de horror. Ao lembrar do amigo Tito, frei Oswaldo sentenciou: "Existe centro acadêmico Tito de Alencar, escola Tito de Alencar, creche Frei Tito de Alencar. Existe até Escola de Dança Frei Tito de Alencar. É só você entrar na internet e ver como o nome dele é lembrado. Eu estou aqui falando dele. E os torturadores? Estão jogados no lixo da história".
Ficha técnica
70
Direção: Emilia Silveira
Produção: Cavi Borges, Emilia Silveira, Sandra Moreyra, Jom Tob Azulay
Roteiro: Sandra Moreyra
Direção de fotografia: Vinicius Brum, Vinicius Charret, Cecilia Figueiredo
Montagem: Joana Collier
Trilha original: Fabio Mondego
Edição de som: François Wolf
Som direto: Marcio Câmara
Efeitos visuais: Patricia Tebet
Assistentes de direção: Cecilia Figueiredo, Rosane Hatab, Marcia Pitanga
Assistente de roteiro: Patricia Silveira
Pesquisa: Antonio Venancio, Margarida Autran, Marcelo Zelic, maria Fernanda Scelza
Direção de produção: Marcia Pitanga
Duração: 90'
post original:
http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2013/10/documentario-reencontra-militantes-trocados-pelo-embaixador-suico-durante-ditadura-7755.html
Dirigido por Emilia Silveira, o longa-metragem entrevista 18 militantes libertados em troca de Giovanni Enrico Bucher, sequestrado por grupos de combate à ditadura em 1970. Foram quarenta dias de cativeiro, o mais longo sequestro político da história do país. Em troca da liberdade do embaixador suíço, os sequestradores queriam − e conseguiram − a liberdade de setenta presos políticos.
Mais de quarenta anos depois, Emilia reencontra estes personagens para resgatar parte desta história. Quem são estas pessoas? O que pensam? Como conduziram suas vidas? O que restou dos ideais e dos sonhos da juventude? Quem eles eram e o que pensavam aos 20 anos? O que esperavam do futuro? Estas são algumas questões respondidas por Wilson Barbosa, Nancy Mangabeira Unger, Vera Rocha Dauster, Ismael J. de Souza, Marco Maranhão, Jaime Cardoso, Mara Curtiss Alvarenga, Affonso Alvarenga, René de Carvalho, Bruno Dauster, Elinor Brito, Chico Mendes, Jean Marc von der Weid, Reinaldo Guarany e Luiz Sanz.
Como eles mesmos se definem, estes "sobreviventes" são protagonistas de uma história não oficial. Com tantas marcas deixadas pelas torturas que sofreram, pelas perseguições e pelo exílio, suas lembranças resgatam parte de um período tenebroso da história do Brasil. São impressões e reflexões (nem sempre homogêneas) sobre táticas, ideais e ações que tiveram consequências profundas na vida de muitos jovens da época.
Por meio de imagens de arquivo, o filme também dá voz a três personagens mortos: frei Tito de Alencar, Maria Auxiliadora Lara Barcelos (Dora) e Carmela Pezzuti. "Frei Tito se pendurou num galho de árvore e se enforcou em um bosque na França. Dora se atirou debaixo das rodas de um trem em Berlim. Várias outras pessoas morreram, de alguma forma, empurradas pelo que tinham sofrido", lembra Marco Maranhão no filme.
"Na história sempre acontece alguma coisa: se você está dentro de um paiol de munição e está sozinho, tudo bem; se você está com mais 20 ou 30 pessoas, o risco se multiplica por 20; se você faz um churrasco com cerveja e cachaça, o risco talvez se multiplique por 600. E o que era a sociedade brasileira em 1969, 1970? Era um churrasco dentro de um paiol de munição com cerveja e cachaça. Alguma granada ia cair no chão e explodir aquele troço porque a ditadura era filha da mãe, os estudantes e operários eram reprimidos, militares expulsos... Então, alguém ia reagir", resume o professor de História da USP, Wilson Negão.
Um dos trunfos do filme é quando os personagens falam sobre como aqueles episódios marcaram suas vidas pessoais. A lembrança que Guarany guarda de Dora no dia em que ela se despediu dele para sempre, antes de se suicidar, são comoventes. Mas o ponto alto é o discurso emocionado do educador, jornalista e cineasta Luizão, quando lembra que sua dedicação integral à luta contra a ditadura fez com que perdesse o convívio com a família.
A dor da tortura emocional e física, a ansiedade pela liberdade, o medo, a emoção de chegar como "estrelas" no Chile de Salvador Allende, em 1971. As lembranças dos personagens conduzem o espectador a um universo íntimo que geralmente fica de fora dos livros de história.
Por mais que possa ser considerado mais um filme sobre a ditadura militar brasileira, "70" reforça que não se pode esquecer aqueles tempos de horror. Ao lembrar do amigo Tito, frei Oswaldo sentenciou: "Existe centro acadêmico Tito de Alencar, escola Tito de Alencar, creche Frei Tito de Alencar. Existe até Escola de Dança Frei Tito de Alencar. É só você entrar na internet e ver como o nome dele é lembrado. Eu estou aqui falando dele. E os torturadores? Estão jogados no lixo da história".
Ficha técnica
70
Direção: Emilia Silveira
Produção: Cavi Borges, Emilia Silveira, Sandra Moreyra, Jom Tob Azulay
Roteiro: Sandra Moreyra
Direção de fotografia: Vinicius Brum, Vinicius Charret, Cecilia Figueiredo
Montagem: Joana Collier
Trilha original: Fabio Mondego
Edição de som: François Wolf
Som direto: Marcio Câmara
Efeitos visuais: Patricia Tebet
Assistentes de direção: Cecilia Figueiredo, Rosane Hatab, Marcia Pitanga
Assistente de roteiro: Patricia Silveira
Pesquisa: Antonio Venancio, Margarida Autran, Marcelo Zelic, maria Fernanda Scelza
Direção de produção: Marcia Pitanga
Duração: 90'
post original:
http://www.redebrasilatual.com.br/entretenimento/2013/10/documentario-reencontra-militantes-trocados-pelo-embaixador-suico-durante-ditadura-7755.html
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