Vinicius 2 (o que não é um demérito)
De
Renato Hermsdorff
post original - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-216343/
Com
Vinicius, o diretor
Miguel Faria Jr.
recontou, cronologicamente, a vida de Vinicius de Moraes, intercalando
depoimentos do “poetinha” (imagens de arquivo) e de amigos famosos,
mesclados com um
pocket show em que artistas reinterpretam sua obra musical e declamações de parte do acervo literário pela dupla de atores
Ricardo Blat e
Camila Morgado. O ótimo documentário, honesto, colheu o que plantou. Lançado em 2005, é o filme brasileiro do gênero mais assistido do país.

Com alguma (quase nenhuma) variação,
Chico - Artista Brasileiro, assinado pelo mesmo cineasta, repete a mesma estrutura. Quem conduz a história (cronologicamente) é o próprio
Chico Buarque,
em longo depoimento exclusivo para a obra, com intervenções dos amigos,
números musicais, literatura... Embora a forma não seja exatamente
original, Miguel Faria Jr. acerta de novo na honestidade.
O
resultado é um filme-homenagem – é conhecida a relação de amizade entre o
cineasta e o biografado – que evita episódios “polêmicos” da vida de
Chico (o artista teria roubado um carro aos 17 anos, por exemplo) ou
mesmo muito pessoais (o casamento com Marieta é tocado de forma curta,
embora bem significativa, a partir do relato do ator e diretor
Hugo Carvana).
Aos 70 anos, sendo 50 de carreira, Chico é um dos personagens mais interessantes – e explorados – da

vida
cultural nacional (Vinicius diz no filme que ele seria uma das poucas
“montanhas” na imensa “planície” que seria a música brasileira, ao lado
de Dorival Caymmi e Noel Rosa). E ele – e todas as histórias que o
orbitam – são a garantia de uma obra ainda assim (um pouco) reveladora e
(muito) deliciosa de ser assistida (em grande parte, por causa do humor
do protagonista).
Para além de todo o contexto da efervescência
política que compreende esse longo período, com a qual vida e obra de
Chico Buarque se confundem – e dos quais o filme não foge –, o retratado
inverte alguns paradigmas a respeito de sua personalidade, ao negar a
timidez a que é associado normalmente; ou se declarar “mais” escritor do
que um artista musical.
A respeito dos números musicais, o
próprio filme traz suas “montanhas”. "A Banda"? "Construção"? "Apesar de
Você"? Que nada! O repertório escolhido para ser apresentado no palco
do longa foge do

lugar
comum e vai de “Mambembe” (Moyseis Marques), “Mar e lua” (Monica
Salmaso), “Estação derradeira” (Péricles). Na mesma linha, e seleção de
artistas traz um frescor de intérpretes, com destaque para a portuguesa
Carminho ("Sabiá"), um empolgante dueto/ embate de “Biscate” entre
Adriana Calcanhotto e Martnália; e uma arrebatadora interpretação de
“Uma canção desnaturada” pela também atriz
Laila Garin, que deu vida a Elis Regina nos palcos.
Pelo
viés literário, Miguel Faria Jr resolveu destacar o último romance de
Chico Buarque, o “Irmão Alemão”, no qual, mesclando realidade e ficção, o
autor resolve investigar o “boato” de seu pai teria tido um outro
rebento, fora do casamento, em uma viagem ao país europeu. Cabe a
Marília Pêra
a leitura dos trechos selecionados do livro, um recurso narrativo que
marca presença no início da projeção e se perde ao longo do filme, até
ser retomado – e justificado – no fim.
Apesar da forma de “planície”,
Chico - Artista Brasileiro é uma “montanha” no conteúdo (bem ali, ao lado de
Vinicius).
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