sábado, 23 de janeiro de 2016

turva


 .. Do corpo. Mas que é o corpo?
Meu corpo feito de carne e de osso.
Esse osso que não vejo, maxilares, costelas
flexível armação que me sustenta no espaço
que não me deixa desabar como um saco
vazio





que guarda as vísceras todas
funcionando


como retortas e tubos
fazendo o sangue que faz a carne e o pensamento
e as palavras
e as mentiras
e os carinhos mais doces mais sacanas
mais sentidos
para explodir uma galáxia
de leite
no centro de tuas coxas no fundo
de tua noite ávida
cheiros de umbigo e de vagina
graves cheiros indecifráveis
como símbolos
do corpo
do teu corpo do meu corpo
corpo
que pode um sabre rasgar
um caco de vidro
uma navalha
meu corpo cheio de sangue
que o irriga como a um continente
ou um jardim
circulando por meus braços
por meus dedos
enquanto discuto caminho
lembro relembro
meu sangue feito de gases que aspiro
dos céus da cidade estrangeira
com a ajuda dos plátanos
e que pode - por um descuido - esvair-se por meu
pulso
aberto...

 trechos de Poema Sujo de Ferreira Gullar
 http://www.casadobruxo.com.br/poesia/f/fgullar27.htm
  

 Entregou-se tanto ao vício da luxúria / que em sua lei tornou lícito aquilo que desse prazer, / para cancelar a censura que merecia.

 A luxúria é como a avareza: aumenta a sua própria sede com a aquisição de tesouros.
 



Hoje sou luxúria. Espero mãos pesadas, ópio na veia, sol de giz riscado no chão. Quero dividir meus erros, arranhar minha loucura.
Caio Fernando Abreu


Não se importe tanto assim com a sua imagem decadente, enfim.
Porão

fotos MPorão

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