Exibido na seção Fórum do Festival de Berlim, este segundo filme da diretora Tatjana Turanskyj coloca como protagonista uma atriz sem sucesso, Helena (Julia Hummer), que se tornou uma requisitada prostituta de luxo.
A atividade permite que sustente sua filha de 11 anos, mas não a livra da dependência de clientes ricos, um dos quais paga o aluguel do bem localizado apartamento onde ela mora, em troca de serviços sexuais.
Todos os seus clientes, aliás, solicitam sexo de maneira não convencional, por meio de jogos e fantasias que incluem roupas e outros acessórios, como os inevitáveis chicotinhos.
A diretora e roteirista mostra-se disposta a discutir capitalismo, sexualidade e relações de dominação entre homens e mulheres – supostamente, de um ponto de vista feminino e crítico, o que não deixa de ser bem-vindo depois dos excessos de fetichismo de butique de Ninfomaníaca, de Lars von Trier.
Entretanto, a diretora o faz de uma maneira um tanto irregular, não raro fria. Raramente se conhecem os sentimentos de Helena – exceto num dia em que ela hesita diante de um serviço, demonstrando sinais da crise com a vida que leva. No mais, seu olhar intensamente melancólico é o sinal constante de sua infelicidade.
O filme realiza a contento o retrato da prostituição administrada como negócio, em que a atuação das profissionais inclui muito de teatral, mas não no sentido artístico e sim como uma encenação calculada e doentia.
A discussão mais interessante, sobre os papeis femininos, não é, no entanto, devidamente bem-conduzida, deixando-se de aproveitar devidamente, por exemplo, a presença da mãe de Helena, a professora de canto Lotte (Susanne Bredehöft), que representa não só outra geração,como um ponto de vista diferente.
Ainda assim, sobram boas sequências em que a ironia e a Inteligência se aproximam: a primeira, na palestra em que uma animada conferencista invoca as conquistas feministas para defender a necessidade de rejuvenescimento e cirurgia plástica; a segunda, e a melhor, na parte final, em que Helena comanda, sob encomenda, um jogo de caça simulada, em que homens vestidos com trajes militares têm como alvos mulheres nuas correndo num bosque. Metáfora que Tatjana Turanskyi poderia ter levado mais longe, levando adiante a situação simbólica de Helena, uma mulher que preenche toda e qualquer fantasia alheia, mas parece nem mesmo saber quais são as suas próprias.
Neusa Barbosa
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http://cineweb.com.br/filmes/filme.php?id_filme=4870
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