Mais do que simplesmente contar uma história, certos filmes proporcionam a oportunidade de conhecer ou melhor compreender estilos de vida bem diferentes daquele com o qual se está habituado. A Ovelha Negra é um destes casos, exemplo raro do cinema islandês a chegar às telonas brasileiras. Entretanto, seria injusto dizer que o lado pitoresco seja o único trunfo deste longa-metragem, por mais que seu maior mérito seja justamente a habilidade do diretor em explorar tais características em uma trama envolvente.
Senão, vejamos: na Islândia, existem mais ovelhas do que seres humanos e os animais são adorados pelos seus donos. Concursos do melhor cordeiro são realizados todo ano, causando imensa expectativa entre os fazendeiros. Após um destes torneios, um dos derrotados decide "investigar" o animal ganhador e logo desconfia que ele possui scrapie, uma perigosa e contagiosa doença que ataca o cérebro e a medula espinhal - uma espécie de "vaca louca das ovelhas", por assim dizer. A notícia logo se espalha, o alerta é dado e, com a doença confirmada, nada mais resta a não ser iniciar a quarentena do local. O que significa matar centenas de ovelhas, das mais diversas fazendas, para evitar que a contaminação se alastre.
O clima de tragédia diante de tal decisão reflete bem o impacto que tal perda significa para aquela comunidade, essencial também para que possa compreender os eventos a seguir. Em um ambiente cada vez mais inóspito, devido à proximidade do longo inverno, a fotografia seca logo torna-se um importante elemento da narrativa, assim como a solidão. É a partir dela que situações como o cão-correio ganham força, pela graciosidade existente em um ambiente tão áspero, de vida e de emoções. Serve para quebrar o gelo, por assim dizer.
Diante deste panorama, chama a atenção a direção precisa de Grímur Hákonarson. Ao conduzir a trama sempre em ritmo lento, o diretor utiliza a trilha sonora para pontuar o suspense crescente na narrativa. O inusitado é um de seus objetivos, algo também ajudado pelo ambiente tão estranho aos leigos. Com algumas imagens visualmente impressionantes e um elenco coeso no endurecimento necessário aos personagens, A Ovelha Negra é um filme bastante interessante que prende a atenção não apenas pela realidade bem específica que apresenta, mas também pelos próprios elementos dramatúrgicos que entrega ao espectador em uma história difícil, mas de certa forma singela.
Filme visto na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2015.
por Francisco Russo
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-237181/criticas-adorocinema/
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