quinta-feira, 4 de agosto de 2016

cine noia - Tangerine

"Donuts deliciosos disponíveis 24 horas por dia. As travestis que frequentam são fofas e, se você tiver sorte, pode presenciar uma batalha de dança por território", escreveu uma cliente, em um site de avaliações, sobre a loja Donut Time. Ponto não-oficial de prostituição de Los Angeles, o local desponta solitário na intersecção entre a Santa Monica Boulevard e a Highland Avenue.

Ele é a locação central da comédia dramática "Tangerine", aclamada no Festival de Sundance deste ano e com estreia no Brasil prevista para outubro, durante o Festival do Rio.

Dirigido por Sean Baker, 44, o longa retrata uma subcultura pouco mostrada no cinema, a das transexuais profissionais do sexo. "Há algo sobre áreas caóticas que me intrigam", diz o diretor em um café de Hollywood. "Eu não tinha uma premissa nem nada, mas sabia que queria fazer um filme ali, no Donut Time. Não preciso de um roteiro enredado ou de início, meio e fim para fazer um filme. Preciso, sim, conectar-me com minhas personagens."

A narrativa da trama, sobre traição, foi sugerida por Kitana "Kiki" Rodriguez e Mya Taylor, duas transexuais que nunca haviam atuado profissionalmente. Sean as conheceu no centro LGBT da cidade, quando fazia pesquisas para o filme. "A Mya tinha o desejo de atuar e, como morava ali perto, era familiarizada com a vizinhança. Naquele momento, soube que tinha encontrado alguém com quem poderia trabalhar."
Reprodução
Cena de Tangerine - as belas da tarde, de Sean Baker
Cena de "Tangerine - As Belas da Tarde", de Sean Baker

"Conheci Sean no início da minha mudança de sexo. Sempre quis trabalhar com entretenimento e essa foi uma oportunidade para isso", conta a atriz, que apresentou o diretor a Kiki, uma amiga que, como ativista trans e funcionária de um centro de pesquisa de HIV, era familiarizada com o universo do filme.

Na trama, Sin-Dee (Rodriguez), depois de cumprir pena por um mês —o filme não diz por qual delito—, reencontra-se com Alexandra (Taylor), sua melhor amiga. Dee fica sabendo que seu namorado e cafetão, Chester, está de caso com uma mulher —"um peixe de verdade, com vagina e tudo", diz Alexandra.

Em cores incandescentes, "Tangerine" acompanha a jornada frenética da dupla pelas ruas de Los Angeles na véspera de Natal, à procura da garota e do namorado, para tirar satisfações.

Uma empreitada "diferente de tudo que você já viu antes", de acordo com o jornal inglês "The Guardian", "com um elenco perfeito e direção belíssima", segundo o "The New York Times".

"Essas mulheres usam humor para lidar com suas dificuldades", afirma o diretor. "Se você passar um tempo com elas, vai perceber que são muito espirituosas. Elas vendem o corpo nas ruas, mas são pessoas muito coloridas. Quis fazer um filme que elas pudessem apreciar."

Baker rodou o longa utilizando apenas câmeras de iPhones 5S. Com um orçamento de US$ 100 mil, ele não conseguiria cobrir os gastos com equipe e com câmeras e aparatos profissionais.

Em vez disso, contou com o aplicativo FiLMiC Pro, que custa US$ 7,99 (cerca de R$ 30), e um adaptador anamórfico para melhorar as imagens. Na equipe, uma mesma pessoa poderia acumular até quatro funções, como a produtora Shih-Ching Tsou, que se revezou como figurinista, continuísta e atriz.

O esquema de produção foi tão simples que uma motorista de ônibus acionou a polícia quando viu as duas atrizes brigando no fundo de seu coletivo, enquanto Baker e o diretor de fotografia do filme registravam a cena em seus iPhones.
"Todo mundo fica chocado quando digo que quero fazer o próximo filme em película", diz. "Mas eu não sei onde está o dinheiro! Vivo tendo crises com isso. Nos anos 1990, você fazia um filme e já estava dentro, conseguia financiamento. 'Tangerine' é meu quinto filme e ainda não estou dentro da indústria".

Quando Sean Baker, natural de Nova Jersey, chegou a Nova York para cursar a faculdade de cinema, achava que faria filmes de ação, com astros e grandes orçamentos, como "Duro de Matar". Até que descobriu em uma biblioteca municipal a Nouvelle Vague francesa, o neorrealismo italiano e filmes de diretores como John Cassavetes.

post orignal
http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2015/10/1685721-filmado-com-iphone-tangerine-traz-protagonistas-transexuais-em-la.shtml

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