segunda-feira, 27 de maio de 2013

Isso é interessante. O que o trabalho em tantos lugares do mundo te ensinou sobre a cultura mundial? Os seres humanos são completamente diferentes uns dos outros ou há similaridades que unem todos nós?


Somos muito diferentes, com certeza. Pense na Coreia de hoje: trabalhei num livro sobre a Coreia do Sul uns três anos atrás. As pessoas eram incríveis, amigáveis e simpáticas. Isso te faz pensar quão diferente as pessoas do norte da fronteira devem ser. Eu era casado com uma alemã quando o Muro de Berlim caiu e ela nunca passava para a zona oriental. Ela parecia pensar que eles eram algum tipo de animal selvagem. Claro, eu fui para o Leste e as pessoas ali não eram diferentes das do Oeste, apesar de um pouco mais pobres. Para mim, a fotografia é isso. A câmera é uma ferramenta incrível para expor culturas e as abrir um pouco para as outras. Isso soa meio pomposo, mas não há razão para se tornar fotógrafo se você não vai tentar fazer um pouco de bem com isso.

Olhando para suas fotografias, me parece que elas estão alinhadas com a ideia do momento decisivo; O que você acha sobre fotografia digital e sobre tirar milhares de fotos de uma vez? Isso é algo que você adota ou rejeita?

Não, eu faço fotos digitais e acho que tecnicamente isso é bom. Quando você está numa sessão de duas ou três semanas, poder voltar para onde você está hospedado, ver o que você fotografou e saber o que você tem — acho isso incrível. Mas isso não é tão bom quando você trabalha corporativamente. Nos velhos tempos você podia andar por um lugar por dez horas, depois voltar e fazer uma boa refeição, relaxar, fazer qualquer coisa. Agora você precisa voltar, baixar um monte de lixo e enviar tudo no mesmo dia. É uma bênção mista. Mas ainda acho que você tem uma chance melhor de captar aquele momento com câmeras digitais.
 
ETIÓPIA. Aldeões andam mais de três quilômetros até a única fonte de água disponível para encher cabaças, lavar roupas e tomar banho. 1987.
 
Alguma dica para a nova geração?

Se tivesse alguma dica, eu aconselharia a mim mesmo. Vai ser interessante ver como a Newsweek funciona, porque no momento ninguém está fazendo nenhum dinheiro com fotografia. Eu dou essas oficinas e me fazem sempre essa mesma pergunta. Acho que não tenho como responder. Se eu fosse absolutamente insensível, diria para comprar uma filmadora em vez de uma câmera fotográfica. Mas é um mundo diferente. Recentemente me pediram para fazer um projeto em Moçambique e, no último minuto, disseram que queriam em vídeo. Mas tenho evitado isso até agora.
No final das contas, as pessoas realmente dedicadas e com um bom olho para a coisa vão conseguir. Até a gente conseguir fazer algum dinheiro com a internet, tudo o que se pode dizer para as pessoas é para aguentar firme. Mas vejo as escolas de fotografia neste país, o número de pessoas se considerando fotógrafos, e duvido que um por cento deles vai conseguir mesmo fazer sucesso na fotografia. Eles podem ganhar a vida trabalhando para a polícia ou fazendo coisas para museus, casamentos e Deus sabe mais o quê. Poucas vão conseguir viver de fotojornalismo. Acho. Posso estar errado.
 
Obrigado, Ian. Foi um prazer falar com você.
 
Com você também, Christian.
 
ALEMANHA. Berlim. Christophe SORCI toca jazz no piano bar East Berlin. 2000.

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