Ele é testemunha ocular de uma das épocas mais fervilhantes da cena musical nacional. Maurício Mauk é o guitarrista da Big Trep dentre várias outras também importantes que ajudam a compor o histórico alternativo brasileiro. Conhecedor profundo de bandas, movimentos, estilos, conceitos, tretas, posturas, buxixos, baixarias e afins...um corpo presente no passado com visões futurísticas que nos fala agora:
entrevista por Porão
Porão - Seu histórico na música já é extenso. Em que bandas tocou? Dá uma sintetizada na sua carreira por favor!
Maurício Mauk - Sei lá, penso mais que sou "um cara da arte, da música" no sentido de que é o que realmente importa em parte de minha vida, saca? Acho que me sinto inserido nesse meio artístico do mais profundo grotão ao mais alto monte...
Maurício Mauk - Uma vez quando comprei algunss Cd's, dei uma porção de discos para uns argentinos. A Baratos Afins lançou o Fellini, Smack, Mercenárias, Akira S, Coke Luxe, a coletânea Não São Paulo; o Violeta de Outono saiu pela Wop Bop e depois pelo selo Plug. Tinha o Rumores e o EP do Finis do Sebo do Disco que comprei lá em Brasília na época mas me roubaram anos depois.
Maurício Mauk - (rs) Vi o Cure só duas vezes. Assisti a todos esses shows menos o New Order pois estava duro (rs). O PIL, o Stray Cats...cara sempre curti de tudo . Não sou preso a estilo. Gosto de música e de compor. Pra mim seria me engessar, me restringir e na verdade, acho uma bobagem ser radical nesse sentido. Tenho o set list autografado do show de 87 do Echo.(rs). Teve também o show do Big Audio Dynamite. Foram quadro dias se não me engano no Teatro Carlos Gomes.
Porão - Sério? Eu adquiri o DVD do show lá na Galeria do Rock em SP mas a qualidade é muito ruim. Não podemos esquecer dos shows do The Mission, do Cocteau Twins, do New Model Army; o fatídico show do Ramones (da bomba), Iggy Pop...
Sim, muitos shows bons passaram por aqui nesse sentido. Eram outros tempos. Agora o Rio de Janeiro ficou no ostracismo e parece ser um esforço gigantesco trazer um show descente pra cá.
Pois é, como comecei a ouvir música cedo e através do meu irmão mais velho,o Metal nunca fez parte de minha vida. Em 79/80 já ouvia Punk Rock com ele e meu primo. Antes disso, a música da minha infância foi Beatles, Led Zeppelin e junto com o Punk veio o AC/DC. Mas tinha muitos amigos que eram metaleiros e acho até que acabei influenciando alguns deles. Eu fui ouvindo Pós Punk junto com o Punk na verdade. Acho que se tivesse internet nessa época eu estava morto(rs)!
Porão - Que interessante: comecei a curtir música com o Metal e depois migrei para o Punk e o Pós Punk! Hoje em dia, tenho até uma tatto em homenagem ao Closer do JoY Division nas costas. O disco deprê da minha vida estranha (rs). Mas algo que não entendi direito, você, seu irmão e seu primo ainda andam juntos, fora de um contexto musical ?
Maurício Mauk - Sim, nos encontramos, pois afinal somos uma família. Talvez o Edu e o Léo se vejam menos. O Léo não toca mais e o Edu é meu parceiro na Bigtrep...
É ótimo! Meus filhos são o máximo!
Porão - Sonho em ter uma filha cara! Nem sei se isso ainda vai rolar nessa atual existência. Eles já curtem música?
Maurício Mauk - Bem, toco na A GRANDE TREPADA ou BIGTREP há 27 anos esse ano (desde 1986). Montei outras bandas que ficaram mais como projetos de estúdio como Os Esquizóides(1995-97) com o Edu (Bigtrep, Canastra, Kongo) no baixo , o Edinho (Kongo & Black future) e o Lourenço Monteiro (Cabeça de Panda, Dado Vila lobos, Marcelo D2) na bateria. O Ricardo & Os Caras que Não tem Amigos (1993-97) que basicamente era a Bigtrep original eu, Edu e o Nery (Rogério), o Gustavo Pessoa (ACK) substituiu o Rogério, só que com o Ricardo (irmão do Rogério ) nos vocais e na guitarra base, as músicas também eram todas dele. Gostava muito desse projeto, as músicas eram bem densas, Rock’n’Roll básico, Country, Blues e Folk bem ácido. De 1997 a 2001 tive o Lunik9 com o Fernando Kamache (Second Come) e o Robson Riva, eu toquei baixo e depois o Edu...(rs) - gosto muito das linhas de baixo dele - entrou e voltei a tocar guitarra. Lançamos o CD "Sem Grana Sem Fama, Sem Garotas" em 2001 mas acabamos antes dele chegar da fábrica. Atualmente toco na Oort Clouds com o Francisco Kraus (Second Come & Jess saes), Yuri Pinta (Beally), Renato Fernandes & Marcelo Pires (Sex Noise) e no Manguaça com o Davi Duarte no baixo, Daniel Collares na Guitarra e o Fábio na Bateria. E o meu projeto “solo” o Mauk & Os Cadillacs Malditos. Acho que pra sintetizar é isso se não vira um calhamaço logo de cara(rs)
Porão - Mas sempre há aquela mais importante né?
Maurício Mauk - Hoje tudo em teoria é mais "fácil", o acesso ao conhecimento está aí, basta você correr atrás. Talvez isso faça com que as pessoas se acomodem mais. Por outro lado, tem muita gente buscando coisas mais específicas, aproveitando essa facilidade. Para o underground/alternativo, agora se consegue agilizar e organizar melhor as cenas, pois o contato com o público aumentou. Agora dá para tocar em qualquer parte, basta correr atrás. Além do equipamento que é bem melhor.
Porão - A vida era mais legal naquela época não? Digo: também sou antigo, estava por ali, nos shows e não necessariamente nas boites e bares. No Cubatão por exemplo não cheguei a ir, mas já peguei a rebarba do Kitinet. Lembra disso?
Era legal naquela época claro. Vi Legião na Papagaio disco Club, Plebe Rude, Escola de Escândalos, Finis com o Rodrigo cantando depois com o Eduardo, o Capital Inicial totalmente diferente e pós punk, Coke Luxe, Rockterapia, o Ira, o Ultraje, Ethiopia, o Kongo com os alemães e todas as outras formações. Também vi Fellini, o Violeta de Outono, o Verso (Picassos Falsos), Afrika Gumbe, De Falla (trio), Nós na Garganta, Distúrbio Social, Obina Shock, Urge e tantas outras; Fui a vários lugares como o Noites Cariocas, Robbin Hood Pub, o Cubatão, Mariuzinn, Ilha dos Mortos; para um moleque, a vida era bem agitada (rs). Mas hoje em dia acho legal também. Claro que agora tenho mais de 40, então...
Porão - Como era o nome do selo mesmo?
Porão - Mas com o Metal você não flertou né? Caverna, Dorsal Atlantica representando o Rio, Venom e Exciter no Maracanãzinho, Kreator com Korzus e Dorsal na antiga quadra da Estácio de Sá ao lldo da antiga Vila Mimosa, antes do puteiro se mudar para a Praça da Bandeira. Foi a primeira vez que fui na Mimosa naquela noite metálica! Tava cheio de camisa preta na ruazinha.
Porão - E como é ser pai nesse contexto rocker ?
Maurício Mauk - Acho que música todo mundo curte, desde a barriga da mãe, não? Até as pessoas mais rabugentas(rs). Eles curtem sim: o Lucas tem seu gosto mais ligado ao RAP e a Laurinha "tá" na época da galinha pintadinha(rs), músicas infantis de todo jeito: tradicionais, Xuxa etc.
fotos: arquivo pessoal do guitarrista
continua...
Esse blog e tudo o que leio e vejo aqui são papa fina! Entrevista sublime, crítica de cinema bacana, fotos...... bem chega a ser desnecessário comentar mas....um desbunde! Fiquei tanto tempo sem vir por aqui. Quase me esqueci de como, além de todo e enlevo relatado acima, eu aprendo! Bom demais....
ResponderExcluirvou chorar!
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