domingo, 7 de julho de 2013

cine nóia - pixo

por Alexandre Caetano
 
 
João Wainer e Roberto Oliveira levam às telas um tema geralmente relegado à marginalidade. A pichação costuma ser tão reduzida ao vandalismo que quem não tem contato com esta realidade tem até dificuldade de enxergar qualquer coisa diferente de uma violência. Porém o cinema tem como uma de suas funções levar aos que assistem uma realidade diferente, sem que haja a necessidade de vivenciar o que é visto. Assim os diretores dão voz àqueles que costumam ter como única forma de expressão os muros e prédios a serem pichados.

Com origem na necessidade de um canal de expressão política, as primeiras pichações a ganharem destaque foram as realizadas durante a repressão da ditadura militar. Uma forma barata e eficiente de expressar o descontentamento com o regime, ainda que tivesse a necessidade de ser uma mensagem concisa e naturalmente efêmera. Aos poucos a ideia de se expressar em muros extrapolou o contexto político nacional, chegando às periferias e, detalhe fundamental, desenvolvendo sua própria estética.


Talvez esse seja um ponto central que permeia o filme, portanto o tema. É muito fácil pegarmos uma ação criminalizada desde sua origem, pois os militares evidentemente já desqualificavam essas ações, e taxarmos de vandalismo, dizer que não é arte e que não deveria existir. No entanto, para quem está imerso nesta cultura, o sentido é bem diferente. Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do pixo.

 

João Wainer e Roberto Oliveira levam às telas um tema geralmente relegado à marginalidade. A pichação costuma ser tão reduzida ao vandalismo que quem não tem contato com esta realidade tem até dificuldade de enxergar qualquer coisa diferente de uma violência.

 
Porém o cinema tem como uma de suas funções levar aos que assistem uma realidade diferente, sem que haja a necessidade de vivenciar o que é visto. Assim os diretores dão voz àqueles que costumam ter como única forma de expressão os muros e prédios a serem pichados.

 
Com origem na necessidade de um canal de expressão política, as primeiras pichações a ganharem destaque foram as realizadas durante a repressão da ditadura militar. Uma forma barata e eficiente de expressar o descontentamento com o regime, ainda que tivesse a necessidade de ser uma mensagem concisa e naturalmente efêmera. Aos poucos a ideia de se expressar em muros extrapolou o contexto político nacional, chegando às periferias e, detalhe fundamental, desenvolvendo sua própria estética.

 
Talvez esse seja um ponto central que permeia o filme, portanto o tema. É muito fácil pegarmos uma ação criminalizada desde sua origem, pois os militares evidentemente já desqualificavam essas ações, e taxarmos de vandalismo, dizer que não é arte e que não deveria existir. No entanto, para quem está imerso nesta cultura, o sentido é bem diferente. Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do pixo.
 
Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do pixo.
 
 
Quanto ao argumento mais que frequente de que o pixo deixa a cidade feia, primeiramente uma cidade como São Paulo, com seus prédios abandonados e paredes sujas, não precisa de ajuda para ficar feia, além disso nosso padrão estético também é construído de acordo com nossas experiências. Acostumados com a imposição da estética burguesa, ouvimos desde crianças que as obras expostas em um museu são belas, assim nos deparamos com obras cubistas ou do expressionismo abstrato e dizemos serem bonitas, ainda que muitas vezes não conseguimos compreender seu sentido.
 
Se um artista, socialmente reconhecido como tal, utiliza telas ou cria formas diferentes para expressar sua criatividade, os pichadores veem na cidade a forma de expressar uma realidade com a qual não costumamos ter acesso. É cômodo morar em um bairro nobre e desqualificar os pichadores e seus trabalhos, porém a força desta intervenção vem de periferias carentes de formas alternativas de cultura, de outras formas de expressão e mesmo educação institucional.
 
Enquanto desqualificamos o trabalho dos pichadores, o documentário nos mostra que São Paulo é uma atração turística para estrangeiros que visitam a cidade especificamente para ver os prédios pichados, já que a cidade é a única à oferecer esta arte de forma tão intensa e rica.
 
E esses artistas, vândalos para alguns, mas que de uma forma de outra atraem turistas para a cidade, sequer tem um retorno concreto disso. Escalar um prédio sem nenhum equipamento de segurança, chegar perto da rede de alta tensão, “rodar” nas mãos da polícia. Tudo isso tem um propósito maior do que somente vandalismo. É um desafio, busca reconhecimento, forma de expressão. Motivações e trabalhos que costumam ser incompreensíveis para quem não conhece.

 
 
Antecipando a crítica pouco criativa, mas inevitável, eu não gostaria de ter minha casa pichada. Tenho minhas opiniões pessoais em relação ao uso da pichação, mas o reducionismo de taxar todo o movimento de vandalismo é ineficiente. Tão ineficiente quanto a ação da polícia ao deter os pichadores. Agredir, humilhar, pintar uma pessoa que, mesmo inconscientemente está buscando uma fuga da realidade dura que enfrenta é sem dúvida uma forma trágica de tratar o problema, como costuma ser a especialidade da polícia paulistana.
 
Apoiar a agressão aos pichadores sem compreender suas causas é tolerar a intervenção urbana igualmente violenta, tanto no descaso urbanístico por parte dos governantes quanto na ação publicitária massiva da maioria das empresas privadas, que tiveram uma pequena regulamentação com a lei cidade limpa, mas já começam a driblar a proibição em pontos de ônibus “patrocinados”.
 
Da mesma forma que o documentário, o objetivo aqui não é concluir se a pichação é arte ou não, até porque o caráter transgressor e marginalizado está em sua essência e é desejado pelos pichadores, mas é inegável que se trata de uma expressão cultural, sendo que nesta qualidade, deve ser mais compreendida do que o reducionismo de vandalismo permite.
 
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