por Alexandre Caetano
João Wainer e Roberto Oliveira levam às telas
um tema geralmente relegado à marginalidade. A pichação costuma ser tão reduzida
ao vandalismo que quem não tem contato com esta realidade tem até dificuldade de
enxergar qualquer coisa diferente de uma violência. Porém o cinema tem como uma de suas funções
levar aos que assistem uma realidade diferente, sem que haja a necessidade de
vivenciar o que é visto. Assim os diretores dão voz àqueles que costumam ter
como única forma de expressão os muros e prédios a serem pichados.
Com origem na necessidade de um canal de expressão política, as primeiras pichações a ganharem destaque foram as realizadas durante a repressão da ditadura militar. Uma forma barata e eficiente de expressar o descontentamento com o regime, ainda que tivesse a necessidade de ser uma mensagem concisa e naturalmente efêmera. Aos poucos a ideia de se expressar em muros extrapolou o contexto político nacional, chegando às periferias e, detalhe fundamental, desenvolvendo sua própria estética.
Com origem na necessidade de um canal de expressão política, as primeiras pichações a ganharem destaque foram as realizadas durante a repressão da ditadura militar. Uma forma barata e eficiente de expressar o descontentamento com o regime, ainda que tivesse a necessidade de ser uma mensagem concisa e naturalmente efêmera. Aos poucos a ideia de se expressar em muros extrapolou o contexto político nacional, chegando às periferias e, detalhe fundamental, desenvolvendo sua própria estética.
Talvez esse seja um ponto central que permeia o filme, portanto o tema. É muito fácil pegarmos uma ação criminalizada desde sua origem, pois os militares evidentemente já desqualificavam essas ações, e taxarmos de vandalismo, dizer que não é arte e que não deveria existir. No entanto, para quem está imerso nesta cultura, o sentido é bem diferente. Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do pixo.
João Wainer e Roberto Oliveira levam às telas
um tema geralmente relegado à marginalidade. A pichação costuma ser tão reduzida
ao vandalismo que quem não tem contato com esta realidade tem até dificuldade de
enxergar qualquer coisa diferente de uma violência.
Porém o cinema tem como uma de suas funções
levar aos que assistem uma realidade diferente, sem que haja a necessidade de
vivenciar o que é visto. Assim os diretores dão voz àqueles que costumam ter
como única forma de expressão os muros e prédios a serem pichados.
Com origem na necessidade de um canal de
expressão política, as primeiras pichações a ganharem destaque foram as
realizadas durante a repressão da ditadura militar. Uma forma barata e eficiente
de expressar o descontentamento com o regime, ainda que tivesse a necessidade de
ser uma mensagem concisa e naturalmente efêmera. Aos poucos a ideia de se
expressar em muros extrapolou o contexto político nacional, chegando às
periferias e, detalhe fundamental, desenvolvendo sua própria estética.
Talvez esse seja um ponto central que permeia o
filme, portanto o tema. É muito fácil pegarmos uma ação criminalizada desde sua
origem, pois os militares evidentemente já desqualificavam essas ações, e
taxarmos de vandalismo, dizer que não é arte e que não deveria existir. No
entanto, para quem está imerso nesta cultura, o sentido é bem diferente.
Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e
mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a
facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do
pixo.
Conforme o filme mostra claramente, um dos jovens estudou até a oitava série e
mal consegue ler palavras simples em letra de forma, mas decifra com a
facilidade com que você está lendo esse texto as letras codificadas do
pixo.
Quanto ao argumento mais que frequente de que o
pixo deixa a cidade feia, primeiramente uma cidade como São Paulo, com seus
prédios abandonados e paredes sujas, não precisa de ajuda para ficar feia, além
disso nosso padrão estético também é construído de acordo com nossas
experiências. Acostumados com a imposição da estética burguesa, ouvimos desde
crianças que as obras expostas em um museu são belas, assim nos deparamos com
obras cubistas ou do expressionismo abstrato e dizemos serem bonitas, ainda que
muitas vezes não conseguimos compreender seu sentido.
Se um artista, socialmente reconhecido como
tal, utiliza telas ou cria formas diferentes para expressar sua criatividade, os
pichadores veem na cidade a forma de expressar uma realidade com a qual não
costumamos ter acesso. É cômodo morar em um bairro nobre e desqualificar os
pichadores e seus trabalhos, porém a força desta intervenção vem de periferias
carentes de formas alternativas de cultura, de outras formas de expressão e
mesmo educação institucional.
Enquanto desqualificamos o trabalho dos
pichadores, o documentário nos mostra que São Paulo é uma atração turística para
estrangeiros que visitam a cidade especificamente para ver os prédios pichados,
já que a cidade é a única à oferecer esta arte de forma tão intensa e
rica.
E esses artistas, vândalos para alguns, mas que
de uma forma de outra atraem turistas para a cidade, sequer tem um retorno
concreto disso. Escalar um prédio sem nenhum equipamento de segurança, chegar
perto da rede de alta tensão, “rodar” nas mãos da polícia. Tudo isso tem um
propósito maior do que somente vandalismo. É um desafio, busca reconhecimento,
forma de expressão. Motivações e trabalhos que costumam ser incompreensíveis
para quem não conhece.
Antecipando a crítica pouco criativa, mas
inevitável, eu não gostaria de ter minha casa pichada. Tenho minhas opiniões
pessoais em relação ao uso da pichação, mas o reducionismo de taxar todo o
movimento de vandalismo é ineficiente. Tão ineficiente quanto a ação da polícia
ao deter os pichadores. Agredir, humilhar, pintar uma pessoa que, mesmo
inconscientemente está buscando uma fuga da realidade dura que enfrenta é sem
dúvida uma forma trágica de tratar o problema, como costuma ser a especialidade
da polícia paulistana.
Apoiar a agressão aos pichadores sem
compreender suas causas é tolerar a intervenção urbana igualmente violenta,
tanto no descaso urbanístico por parte dos governantes quanto na ação
publicitária massiva da maioria das empresas privadas, que tiveram uma pequena
regulamentação com a lei cidade limpa, mas já começam a driblar a proibição em
pontos de ônibus “patrocinados”.
Da mesma forma que o documentário, o objetivo
aqui não é concluir se a pichação é arte ou não, até porque o caráter
transgressor e marginalizado está em sua essência e é desejado pelos pichadores,
mas é inegável que se trata de uma expressão cultural, sendo que nesta
qualidade, deve ser mais compreendida do que o reducionismo de vandalismo
permite.
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