A Vida de PI - 2012 , (Piscine Molitor Patel - interpretado por Suraj Shrama) resume a saga de um rapaz indiano cujo pai tem um zoológico na cidade de Pondicherry, na Índia. A família decide abandonar o país devido à instabilidade política que o abalou na década de 1970, e, por conta disso, embarca num navio cargueiro rumo à América do Norte com os animais do zoológico a bordo. Os animais seriam vendidos para que a família pudesse iniciar uma nova vida. Ocorre que, logo nos primeiros dias de viagem, o navio naufraga restando apenas cinco sobreviventes: Pi e quatro animais do zoológico – uma zebra, uma hiena, uma orangotango e um tigre-de-bengala. Esse grupo é obrigado a conviver num pequeno barco salva-vidas e trava-se uma luta acirrada pela sobrevivência na qual a hiena mata a zebra e depois a orangotango. Por fim, o tigre mata a hiena. A história se desenvolve em torno de Pi e o tigre, cujo nome é Richard Parker. Após vários momentos muito difíceis em alto mar (as aventuras em si), os dois chegam ao México, e embora com a saúde bastante debilitada, Richard Parker some na mata da praia onde aportaram e Pi é resgatado por pescadores e levado a um hospital. Ainda hospitalizado, recebe a visita de dois funcionários da seguradora da empresa do cargueiro naufragado e, pressionado por estes (que não deram crédito à sua história inverossímil), apresenta uma segunda versão dos fatos.
Essa é a síntese principal do filme na narrativa de um homem que conta a história de um adolescente fanático religioso – a sua própria história – a um jornalista cuja intenção é escrever um livro sobre sua incrível odisséia na imensidão do Pacífico num pequeno barco salva-vidas ao lado de um tigre-de-bengala. Ao terminar de contar sua aventura ao josnrlaista/historiador, Pi percebe o ar de incredulidade do seu interlocutor e parte para uma outra versão da história (justamente a versão contada aos funcionários da companhia do cargueiro naufragado): os sobreviventes foram de fato ele, sua mãe, um cozinheiro (com quem seu pai havia travado uma discussão violenta acerca de não abrir mão de refeições vegetarianas a bordo) e um budista que intercedera em favor dele e sua família. Nota-se, então, algo também destacado pelo jornalista que o ouvia – existia uma correspondência entre as personagens das duas histórias: o budista (ferido) corresponderia à zebra (que tinha uma perna quebrada); o cozinheiro cruel à hiena; e a orangotango à mãe de Pi. E ele próprio seria Richard Parker, o tigre-de-bengala. Nessa segunda versão, tanto sua mãe quanto o budista haviam sido mortos pelo cozinheiro no bote. Depois, revoltado com a violência dispensada à sua mãe, Pi teria matado o cozinheiro.
O filme tem muitas cenas desagradáveis que beiram o terror como a agonia da convivência forçada dos quatro animais no barco, ou os ataques da “malvada” hiena ao orangotango e zebra. Também é uma cena angustiante a que Richard Parker – o tigre, que faminto havia se jogado ao mar – nada desesperadamente em volta do bote, tentando entrar nele, até que Pi decide socorrê-lo. Há outras passagens potencialmente boas que são neutralizadas com desdobramentos inadequados ou mau conteúdo . Isso acaba por promover o filme a um patamar mediano.
É interessante notar – e essa é uma das várias inconsistências da história – que logo no início do filme, o pai de Pi o alerta para que (ele e seu irmão) não se deixem enganar por histórias e luzes bonitas: “Meninos, religião é escuridão”, completa ele. Mas Pi desenvolve sua personalidade e seus valores em torno de sua devoção religiosa. Não faz muito sentido, portanto, quando ele diz que conseguiu sobreviver naquelas condições adversas por conta do que seu pai lhe ensinara. Havia sim, um lado racional sobre a vida que foi útil para a sua sobrevivência em alto mar. Todavia o filme exalta muito mais a primazia da vertente religiosa no que tange à sua salvação. Isso fica claro quando ele termina de contar a segunda versão da sua odisséia e diz: “A melhor história é aquela que tem Deus”.
Manter Richard Parker vivo – não abandoná-lo no meio do oceano – era sinônimo de cuidar de si mesmo e de não se abandonar e ressalta-se o valor instrumental do animal – desse “segundo corpo”, ou “avatar selvagem” – que expressa a força da natureza bruta em luta pela sobrevivência.
O autor, Ang Lee, poderia ter estabelecido uma relação de amizade ou parceria entre Pi e o tigre mas o relacionamento começou com o medo, prosseguiu num adestramento e continuou basicamente entre o medo e a desconfiança. Houve cenas de ternura mas foram poucas. A questão religiosa estraga tudo desde o início. Ame-o ou deixe-ou. Sou apaixonado por felinos...então amo.
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