Amarelo Manga foi lançado em 2002 e dirigido pelo polêmico (meu ídolo) Cláudio Assis.
O filme, que custou 500 mil reais, ganhou prêmio do Ministério da Cultura do Brasil para filmes de baixo orçamento. A começar pelo poster de divulgação,
uma vagina com cabelos cor amarelo manga, como a de colchões mofados, paredes descascadas, rostos desnutridos, remelas, escarros, dentes, mesas, chapéus gastos, carros velhos, cadáver em determinado estado de decomposição, cabos de peixeiras e coisas embaçadas pelo tempo. A luz hepática que alude a Miguel Rio Branco, impactuante graças ao trabalho excepcional do diretor de fotografia Walter Carvalho que assessora Assis, na época, estreante em longas-metragens, com uma necessidade urgente de se expressar comatravés de uma obra coerente e optativa pela linguagem decadente e realista. Assis deixou claro na época da estreia: "Se você achar meu filme uma merda, eu ficarei feliz de verdade, venha me dizer. Mas se você amar, espalhe, diga pra todo mundo, porque a publicidade de Amarelo Manga não tem dinheiro de majors, nem de porra nenhuma".
Se o filme atingiu uma nova revolução no cinema nacional nem vem ao caso agora, dez anos depois, mas que poucos filmes nacionais são tão sinceros e contundentes... Feito por quem vive a realidade abordada, Amarelo Manga exibe a estética da pobreza, as vergomnhas da miséria, exibindo marginalizados não como vítimas, mas como fatores viciados da podridão nacional.
O personagem principal no filme, é o povo brasileiro, personificado nos nativos de Recife, capital que guarda, entre os executivos à beira-mar e as palafitas bambas sobre o mangue, uma síntese do país. O centro das ações é o Texas Hotel do Centro Velho e quem manda ali é o homossexual Dunga (Matheus Nachtergaele), cozinheiro e faxineiro, apaixonado pelo açougueiro Wellington Kanibal (Chico Diaz), que trai a esposa evangélica, Kika (Dira Paes). Para completar, vive no Texas o necrófilo Isaac (Jonas Bloch), encantado com a dona de boteco Lígia (Leona Cavalli), mas que acaba transformando, na verdade, a vida de Kika.
Ao fim do filme, Assis deixa vários finais abertos, como feridas, pois sabe que a reflexão do espectador é mais importante do que a defesa de uma tese. Não assista a Amarelo Manga apenas para passar o tempo...
na íntegra:
por Porão
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