quarta-feira, 26 de março de 2014

cine noia - Better Things - uma experiência lenta, soturna, estranha e infeliz.

BETTER THINGS de Duane Hopkins não se pretende fácil: durante os vinte minutos iniciais, deve ser feito um esforço para se perceber que, afinal, há uma história sendo contada. Uma história muito da soturna e pessimista, diga-se.


Os personagens são apresentados em tramas paralelas, sem que conheçamos as relações entre eles. Um narrador em off apresenta frases pessimistas sobre a vida e sua dificuldade ou sua “essência dolorosa”, enquanto a paisagem vazia de árvores ao vento se apresenta e pessoas choram a morte de uma garota desconhecida.

O filme possui um ritmo muito particular, estranho, lento, mas não estático: uma sucessão de planos curtos, em detalhes; os planos de lágrimas sobrepujam túmulos, casas e estradas, personagens perdidos.

A história começa a se desenvolver embora ainda muito confusa e todos os personagens apáticos e semelhantes fisicamente passam a apresentar suas especificidades, a criar vida própria. Não que a compreensão exata da linha narrativa seja essencial: saberemos quem é amigo de quem, quem namora ou namorava quem, mas a grande importância para o diretor Duane Hopkins é o de construir a sensação de luto pela imagem e não pelo roteiro.

Em Better Things todos são tristes, monótonos. Por fim, mesmo que eles sejam pessoas diferentes, o filme aborda um mesmo tipo de ser humano fracassado, individualista e depressivo.


Curiosamente, estas figuras se dividem entre dois grupos de idades extremas: trata-se, por um lado, de jovens recém-saídos da adolescência e, do outro, de octagenários. Toda a grande faixa adulta que estabelece a ponte entre ambos é ocultada. Os problemas amorosos se passam igualmente com todos, numa tese que democratiza a infelicidade contemporânea.


As pessoas transam tristemente, se drogam apaticamente, conversam desinteressadamente. Não há grandes passagens ou transformações que se dediquem a um acontecimento especial, mas sim a uma certa condição universal a ser refletida. 

Mortes e crises ajudarão nossos personagens e se compreenderem e se comunicarem, como se toda a história fosse uma espécie de superação psico-religiosa dos problemas. 

Better Things apresenta uma beleza um tanto inovadora nas imagens, no tratamento do som e da montagem. Acima de tudo, ele transmite uma certa noção de esforço (os noventa minutos parecem muito mais longos) que se prestam a fazer da obra uma experiência pesada, mas não agradável. Imagino que quando lançado, muitos espectadores se levantaram e partiram. Para os que ficaram, resta a conclusão que amarra o filme :nada muda de fato, mas alguns raios de sol começam a aparecer no fundo das paisagens – e para quem assistiu a uma obra inteira de névoas azuladas, isso é uma boa recompensa.


Better Things (2009)
Filme britânico dirigido por Duane Hopkins.
Com Rachel McIntyre, Emma Cooper, Liam McIlfatrick.




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