segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

cine noia: Exodo: Deuses e Reis

O grande diretor Ridley Scott já é escolado na arte de produzir épicos históricos. Foi assim com sua adaptação da história de Cristóvão Colombo em 1492: A CONQUISTA DO PARAÍSO (1992), com a Roma Antiga e seu Coliseu em GLADIADOR (2000), e com a Jerusalém da Idade-Média em CRUZADA (2005).

Nove anos depois de seu último épico, Scott volta ao tema abordando nada menos do que a histórica e bíblica jornada do profeta Moisés, o mais importante do Judaísmo, responsável pela libertação do povo Hebreu do regime de escravidão no Antigo Egito, sob o comando do Faraó Ramsés. Moisés guiou seu povo através de um êxodo que cruzou desertos e o Mar Vermelho, e ainda segundo a Bíblia, Moisés também recebeu no alto do Monte Sinai as Tábuas de Lei de Deus, contendo os Dez Mandamentos.

O resultado da epopéia de Moisés sob a visão de Scott tem seus defeitos. Ainda assim, trata-se de uma obra visualmente alucinante, e de indiscutível grandiosidade.

A história de Moisés já ganhou as telas em diversas oportunidades, tanto em forma de filmes como na forma de séries de TV, sendo que as mais conhecidas do público são OS DEZ MANDAMENTOS, épico dirigido por Cecil B. De Mille em 1956, e O PRÍNCIPE DO EGITO, animação da DreamWorks lançada em 1998.

ÊXODO: DEUSES E REIS (EXODUS: GODS AND KINGS) de certa forma condensa o épico de quatro horas de duração de De Mille, e assume o ritmo mais movimentado da animação de 98, guardadas as devidas proporções, é claro.
No roteiro de Steven Zaillian (A LISTA DE SCHINDLER, O GÂNGSTER) em colaboração com Bill Collage, Jeffrey Caine e Adam Cooper, a narrativa no início da produção soa apressada, fugindo demais do formato de um épico histórico, e principalmente de tema bíblico. Mas à partir do momento em que Moisés (um ótimo Christian Bale) é exilado do Egito, o filme ganha corpo e um ritmo mais cadenciado, evoluindo à medida em que vai chegando ao seu final.

Como já citado, Bale está muito bem, o que infelizmente não pode ser dito de seu antagonista, o Faraó Ramsés interpretado por um Joel Edgerton (O GRANDE GATSBY, GUERREIRO) completamente fora de tom. Scott ainda desperdiça todas as presenças femininas do filme, que incluem nomes de peso como Sigourney Weaver e Golshifteh Farahani (A PEDRA DE PACIÊNCIA), em papéis minúsculos e sem impacto na trama.

Tecnicamente no entanto, o filme é impecável. A fotografia repleta de tomadas amplas que sobrevoam o Egito Antigo são de tirar o fôlego, assim como os efeitos-especiais, todos renderizados de maneira perfeita.
Toda a sequência do clímax envolvendo o milagre em torno do Mar Vermelho, onde o povo de Moisés começa sua jornada adentrando um oceano “esvaziado” é de arrepiar.
E as sequências envolvendo as pragas que se abatem sobre o Egito também merecem atenção.

Por tratar-se de uma produção de tema bíblico, ÊXODO: DEUSES E REIS com certeza já chega às telonas envolvido em polêmicas, muito semelhantes às que circularam em torno de NOÉ, produção de Darren Aronofsky que chegou aos cinemas no início do ano.

De fato, Scott constrói seu filme de maneira religiosamente unilateral, defendendo sem meio-termos o “Deus Hebreu”, não dando aos egípcios liderados por Ramsés nenhum tipo de clemência ou consideração. No entanto, justamente por basear-se em uma história da Bíblia, o roteiro de ÊXODO não poderia debandar demais de sua origem, o que com certeza causaria ainda mais polêmica e discussão que tirariam o foco das qualidades cinematográficas da produção.

De qualquer maneira, gostei da maneira inusitada com que Scott representa Deus em seu filme, assim como a relação entre este Deus e Moisés, relação que veio a definir a humanidade como a conhecemos e também Moisés como o profeta reconhecido pelo Cristianismo, Islamismo e também pelos Muçulmanos.
A breve cena final, de extremo bom gosto por parte de Scott, ilustra de maneira sutil e inteligente a condição do povo Hebreu/Judeu, que viria a se estender até os dias de hoje.

ÊXODO: DEUSES E REIS está longe de ser um épico definidor na carreira de Scott como foi GLADIADOR por exemplo. Mas tendo em vista os últimos e fracos trabalhos do diretor, fico feliz em considerar o filme como o começo de uma volta deste grande cineasta à boa forma.

Por Eduardo Kacic.
post original:
http://www.gallomovies.com/critica-exodo-deuses-e-reis-exodus-gods-and-kings/

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