sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

parla aí: no divã do Bolinho - parte um



Figuraça emblemática e presente no underground carioca. Tem sempre uma ideia camarada e amiga pra trocar! Embora negue, tem um certo de ar de líder e passa sempre uma tranquilidade. Bolinho, guitarrista/vocal da banda punk rock Kopos Sujus é psicólogo social. Não chega a ser algo tão estranho numa cena que tem de tudo um pouco quando se pensa em "Cidade Maravilhosa". Mas sem dúvidas sua profissão sublinha uma personalidade agradável e muito interessante. Conheça melhor Alexandre Bárbara (sic), o Bolinho, à partir de agora.

texto por Porão
fotos - arquivo pessoal do maluco e da banda:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=632235720150923&set=pb.100000935017145.-2207520000.1420201673.&type=3&theater
https://www.facebook.com/alexandre.barbara.3762 
 

Porão - Um psicólogo social inserido na cena punk carioca? Inusitado não?
 
Bolinho - rsrsrs, fala Porão!
 
Porão - Então, vamos por aí: o que representa essa cena existencialmente falando? E o  que houve com o Kopos Sujus? Um hiato?
 
Bolinho - Uma porção de coisas: estou no último ano do Doutorado, não tava dando pra focar na banda. O Davi se mandou pra Europa, no inicio do ano, pra trabalhar, e não sabíamos quando ele voltaria ou se voltaria. O Marcelo tava atolado com questões pessoais. Conversamos em Janeiro e decidimos que este ano seria "offline" pra banda. Em 2015 depois do Carnaval voltamos com força total e disco novo.
 
 
Porão - Você tem características de líder. Sempre foi assim?
 
Bolinho - Mas não consigo liderar nem minha cozinha de casa... nunca fui líder e espero não precisar ser porque não me vejo em condições de liderar nada.

Porão - O Kopos não é sua única experiência musical. Estou certo?

Bolinho - Nossa, tive umas 5, 6 bandas já! A primeira, aos 15 anos de idade, Renda per Capita (meu deoos! que nome). 1988. Eu e tres amigos do colégio. Tocávamos Ramones, titãs

Porão - Lembro-me de que nos conhecemos numa lotada indo pro show do Cólera. Você era amigo do Redson? Qual sua lembrança precisa sobre ele?

Bolinho - Não era "amigo" do Reds, infelizmente. Mas conversamos algumas vezes. Minha maior lembrança dele sempre vai ser dele perguntando, depois de duas horas de show, se a galera "estava cansada, porque ele não estava". E tocar mais uma hora e meia. Redson me ensinou tanta coisa na vida que só queria ter tido a chance de agradece-lo por isso. Mas ele se foi antes.

Porão - Certa vez escrevi algo a respeito sobre experiências bizarras que eu fazia ao pegar o trem na central com Dead Can Dance no talo no cd player (a mídia da época) e ir até Japeri viajando em vários sentidos no povo brasileiro pobre, maltratado e toscão. Você assimilou perfeitamente minha vibe,creio que o psicólogo veio à tona e ainda disse que curtia a banda. Eu pensei: esse maluco é punk de alma como eu e não só punk de som. Explica essa complexidade. Sou normal?


Bolinho - Acho que muito do que nós escutamos e curtimos reflete nossas experiências de subordinação e opressão. Mas também pode ser uma forma de comunicação que transcenda o território e o concreto. A arte não embarreira, ela foi feita para desembarreirar. As vezes vou pro trabalho, pego o trem no ramal Saracuruna às seis da tarde, aquela lata de sardinha e vou ouvindo Joy Division. E fico impressiondo como não são mundos opostos ou irreconciliáveis. Muito da solidão e da desesperança que o Ian Curtis cantava eu vejo nos olhos e sinto nas pessoas que viajam comigo naquele vagão.



Porão - Pegando o gancho, o Kopos parece que foi feito somente para diversão devido às letras. Que bandas lhe influenciam como músicos em ideologias e sonoridade?





Bolinho - Uma porção cara. Algumas bandas podem ter me influenciado com idéias, como New Model Army, Bad Religion, Dead Kennedys, Cólera, Inocentes, Plebe Rude.. ou com o som, como Ramones, Husker Dü, Smiths etc. Algumas me influenciaram por abrir minha cabeça, como Sugar, Sonic Youth, Dag Nasty... outras ainda, por me oferecer suporte em momentos difíceis, como companhia, como New Order, Morrissey etc.

continua...

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