O movimento, lato sensu, pode ser entendido como a variação de um ponto material no espaço através do tempo. Algo bastante simples se tomado a partir da experiência contidiana, mas que pode ser entendido sob diversas perspectivas. Dentro do texto, que nos cabe discutir, o movimento é visado sob a perspctiva do contexto ( social, ideológico, psicológico, artístico). Fala-se de deslocamento quando, por exemplo, Duchamp leva para o museu, para um exibição oficial, um urinol. A palavra deslocamento , nesse caso, se refere não ao movimento físico cujo referencial é geográfico, mas ao movimento institucional em que uma coisa assuma forma interior (essência) diversa quando colocada sob chancela distinta. Percebam que falo de essência aqui não dentro de uma visão idealista, mas como que declarando um estado perceptivo em que as coisas são em acordo com seu contexto. Um urinol, numa sala de exposição, deixa de ser um urinol para ser uma obra de arte, ainda que materialmente continue a ser um urinol.
Já o deslocamento operado por Smithson é o de trazer o “lugar” da arte para fora do museu. Aliás, o espaço (a terra) que é concebido como um “lugar” passa a ser o próprio referencial de “objeto artístico”. Isso tudo ocorre num contexto em que é colocado em xeque a própria idéia de um “objeto artístico”. São agora as idéias, os gestos, intenções do artista que se dimensionam no pretexto de uma produção de arte.
E é possível dizer que Hélio Oiticica leva isso mais longe quando se muda para o morro e vestindo o Parangolé diz se transformar num sambista na mesma medida em que o sambista (que veste da mesma forma o Parangolé) transforma-se em artista. Uma operação que não se dá em termos de instituicional já que, em última instância, Oiticica permanece sendo o artista e o sambista, anônimo, segue como personagem ordinário na sua investida. O deslocamento que ocorre nesse caso é psicológico, uma vez que a transformação é operada na consciência mesma daquele que veste o Parangolé e não na daquele que observa.
texto por
Bruno Melo Monteiro (SENAC RJ)
foto: Rattus in Moviment por Porão
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