O sul-africano branco, James Gregory (falecido em 2003 ), ex-carcereiro de Nelson Mandela, escreveu um livro de memórias intitulado Goodbye Bafana, no qual revela sua relação de mais de vinte anos com o prisioneiro político mais famoso do século 20. O livro foi adaptado ao cinema em Mandela - A Luta Pela Liberdade (Goodbye Bafana, 2007), que prometia um retrato da luta do ativista sul-africano, mas o resultado é unilateral, obviamente embelezado e vazio.
O elenco é razoável, especialmente Dennis Haybert (o senador/presidente Palmer de 24 Horas), que vive Mandela, mas o roteiro oferece muito pouco para que eles trabalhem. Inicialmente, James, vivido pelo irregular Joseph Fiennes é, como toda esmagadora maioria sul-africana branca de 1948 a 1990, um ferrenho simpatizante do regime segregacionista do Apartheid. Por conta de uma infância em que tinha amigos negros, porém, ele conhece o dialeto falado por Mandela e seus colaboradores e é designado para o departamento de censura da prisão em que o líder está preso.
Aos poucos, o carcereiro começa a respeitar o advogado, ativista e guerrilheiro da causa da liberdade social - algo que reflete o próprio sentimento do país, que sofre cada vez mais pressão da comunidade internacional para mudar o regime. No filme, porém, a mudança é brusca, mal conduzida e parece rápida demais.
Em determinado momento, Gloria, a esposa de James (vivida pela linda Diane Krueger), pergunta: "como você deixou as coisas chegarem a esse ponto?", ao que Fiennes responde "se você conhecesse Mandela, entenderia". Ora, acontece que nós, como Gloria, também não conhecemos Mandela. O sujeito até ali - e estou falando da metade da projeção - mal apareceu no filme e teve dois, três diálogos com o guarda censor. Não dá para acreditar que tamanha devoção do carcereiro pelo ativista venha desses parcos encontros.
O filme perde-se aí, ao precisar do conhecimento do público na figura histórica de Mandela, pressupondo que os espectadores já tenham respeito suficiente pelo homem para ignorar tal preguiça de roteiro.
A segunda metade até melhora um pouco, especialmente quando ele começa a ver as
conseqüências diretas de seus atos e entram os elementos mais diplomáticos e políticos dos acontecimentos, mas o estrago já está feito. Seria mais interessante, para justificar a mudança brusca, um melhor desenvolvimento do passado do personagem - algo apenas pincelado em 2 minutos, logo no primeiro ato. Mandela, porém, retratado o tempo todo não como um humano, mas como um super-heróico bastião da coragem, da justiça, da razão e da liderança, deve ter adorado.
post original:
http://omelete.uol.com.br/cinema/mandela-a-luta-pela-liberdade/#.UpYM_stDt5J
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